www.motoa2.com.br

Direto do túnel do tempo.
Vale do Café / Conservatória – Quando olhamos para nosso passado, podemos resgatar tanto coisas boas quanto coisas ruins. No Vale do café, especificamente, Conservatória nos dá o oportunidade de vivenciar estas duas experiências.


Apoio:

« de 4 »
 
  VERSÃO PILOTO

COMO CHEGAR

Partindo de São Paulo até Conservatória são 350 km. Seguindo pela Ayrton Senna e Carvalho Pinto até Taubaté, depois siga pela Dutra até a saída 291, logo após pegue o acesso para rodovia Floriano Quatis à partir daí é só relaxar e curtir as curvas e as belas paisagens da região.

ESTRADAS

As rodovias paulistas, na maioria das vezes, são sempre muito bem conservadas, e pedagiadas também, no caso da Ayrton Senna e Carvalho Pinto, motos também pagam. A partir de Taubaté até as proximidades de Barra Mansa seguimos pela via Dutra, que vale a recomendação de ficar mais atento devido ao alto número de ônibus e caminhões.
Deixando a Dutra pra traz e seguindo pela Floriano Quatis você pode relaxar e aproveitar para curtir ótimas estradas, com asfalto perfeito, curvas bem desenhadas e paisagens dignas de pinturas, ou seja, estradas perfeitas para andar de moto.

O QUE FAZER

Aprender. Acho que esse é o ponto principal desse roteiro, que conta em detalhes uma parte da história do Brasil, na região do Vale do Café, com suas fazendas do início do século XIX, e trilha sonora embalada pelos seresteiros de Conservatória.
O Vale do Café fica localizado no Vale do Paraíba Sul Fluminense, Vale do Café é a denominação turística da região onde o café foi a principal fonte de renda no Século XIX. Naquela época, a região produzia 75% do café consumido no mundo, garantindo ao Brasil a liderança mundial na produção e exportação de café. 
Os municípios de Vassouras, Valença, Rio das Flores, Barra do Piraí, Piraí, Engenheiro Paulo de Frontin, Mendes, Paty do Alferes, Miguel Pereira, Paraíba do Sul e alguns distritos como Ipiabas e Conservatória, que pertencem a Barra do Piraí e Valença, respectivamente, destacam-se, pois ainda preservam no casario antigo, igrejas, estradas e fazendas, que pertenceram aos famosos barões do café, um importante capítulo da história do Brasil Imperial. *Texto extraído do portal Vale do Café.

Um bom roteiro de moto precisa ter três coisas, estradas perfeitas, paisagens de pintura e muitas atrações. Então vamos lá:
Estradas Perfeitas – Interligando as cidades que compõe o Vale do Café, as estradas são muito bem asfaltadas, com curvas perfeitas e com pouco trânsito de carros, ideal para quem está de moto e deseja percorrer esses trechos mais à vontade, de bermuda e camiseta, sem a necessidade de todos os equipamentos de segurança.
Paisagens de Pintura – Esse é outro grande prazer em andar de moto, percorrer belas estradas, onde depois de uma curva é como se abrisse uma enorme tela, paisagens como a gente costuma ver em pinturas, céu azul com alguns desenhos de nuvens brancas, montanhas verdes com uma casinha soltando fumaça pela chaminé da cozinha. A cada curva é uma nova pintura que o Vale do Café revela, perfeito.

Atrações – Acho que a principal atração desse roteiro é a História, portanto esteja pronto para ouvir mais e falar menos.
Como não tínhamos tempo suficiente para visitar todas as cidades, nem todas as fazendas que gostaríamos, optamos por ficar hospedados em Conservatória, afamada por ser a cidade da seresta, mas somente de sexta a domingo, nos outros dias quase nada funciona na cidade. Nas noites de sexta e sábado, pontualmente às 23hs, um grupo de seresteiros percorre algumas ruas da cidade, tocando seus violões e cantando antigas canções de amor, cabe a nós, turistas, acompanhar a procissão e curtir as músicas e as histórias que vão sendo contadas.
Durante o dia resolvemos escolher duas fazendas para visitar, que tivessem bastante história para contar e que fossem antagônicas, porque como na vida, temos sempre o lado bom e o lado mal, e é bom conhecer as duas faces.
A primeira fazenda que visitamos foi a Vista Alegre, na cidade de Valença, passando pela porteira já se vê o cuidado que os proprietários têm em manter as características históricas da fazenda, pela conservação do casarão, dos jardins, e todo o interior da casa com móveis de época. Nessa fazenda fomos recebidos pela Vera, atual proprietária, que ao apresentar a fazenda conta um pouco da história do Visconde de Pimentel, primeiro proprietário da fazenda e que entre outras coisas, libertou seus escravos mesmo antes da abolição, criando a primeira escola do Brasil a alfabetizar filhos de escravos, além da Casa da Música, onde nasceu a banda sinfônica da fazenda.
Hoje a Fazenda Vista Alegre é cenário de diversas novelas e minisséries e promove visitas guiadas, que devem ser agendadas previamente, além de oferecer a possibilidade de se hospedar no próprio casarão colonial.
A segunda fazenda que visitamos foi a Santa Clara, na cidade de Santa Rita, uma fazenda de “reprodução de escravos”, logo na chegada furou o pneu da moto, o primeiro em nove anos viajando, será que é boa a energia do lugar?
Nessa visita fomos guiados pela Rose, que durante o passeio nos contava as crueldades com que o Barão tratava seus escravos, impressionante como o ser humano pode ser cruel e como isso se reflete até nos dias de hoje. Essa fazenda hoje, praticamente em ruínas, é disputada na justiça pelos herdeiros, que vivem em ferrenhas disputas. É o lado negro da vida, mas que também tem muita historia a ser contada, e que é muito importante ser ouvida, porque só assim, conhecendo os erros cometidos no passado, não repetiremos no futuro.
Essa é a nossa história no Vale do Café, certamente muitas outras estão esperando por vocês, vale muito a pena conferir.



  VERSÃO GARUPA

Direto do túnel do tempo.
Quando olhamos para nosso passado, podemos resgatar tanto coisas boas quanto coisas ruins. No Vale do café, especificamente, Conservatória nos dá o oportunidade de vivenciar estas duas experiências.

O tempo é tirano e cruel, mas também traz boas lembranças, momentos que gostaríamos de vivenciar ou até mesmo apresentar para nossos filhos, netos e bisnetos. A arte é a expressão das emoções, traz a história, sentimentos e até mesmo a cultura. Será que a música é capaz de tudo isso?
No que se refere as lembranças ruins, podemos aproveitar e repensar atitudes de nossos antepassados, sentir vergonha alheia, se arrepender e fazer tudo completamente diferente e até mesmo reparar alguns erros cometidos que nunca mais poderão ser desfeitos. Então que tal viajar de volta no tempo, redefinir o significado do que ocorreu e ver o que podemos fazer para se tornar um ser humano melhor?

Agora vocês vão entender perfeitamente tudo o que eu quero dizer.
Nossa viagem no tempo foi para Conservatória no Rio de Janeiro, uma das cidades do vale do café. Se não me engano, voltamos para o século XVIII, onde o trabalho escravo enriquecia os fazendeiros da época. Ainda há muitas coisas construídas pelos escravos, como por exemplo: a Ponte dos Arcos e o Túnel que Chora, onde trafegava a Maria Fumaça, ainda hoje exposta no centro da cidade. Se observar bem, vai ver algumas construções coloniais de casas na vila e as telhas desiguais feitas nas coxas dos escravos. Todas as cidades no entorno, Ipiabas, Barra do Piraí, Piraí, Rio das Flores, Valença, Vassouras e algumas que ficam em Minas Gerais, estão localizam as fazendas cafeeiras onde os Barões exploravam a mão de obra escrava. Está aí minha vergonha alheia.

Em contrapartida, a serenata, que surgiu das músicas cantadas no sereno, foi e ainda é um sucesso em Conservatória.
A mais de 140 anos os seresteiros tocam as sextas e sábados à noite pelas ruas. Tradição que atrai muitos turistas saudosos daquela “época” e daquele estilo musical. Conservatória não é originário de conservatório conforme muitas pessoas pensam. Conservatória era um lugar onde os índios da região levavam os enfermos para se recuperarem de doenças, devido ao clima das montanhas. Como o lugar era maravilhoso eles resolveram se estabelecer por ali, daí o nome.

Falando um pouco sobre nosso roteiro, resolvemos sair de São Paulo na quinta-feira, mas não foi uma boa escolha, pois a cidade só funciona de sexta a domingo, inclusive a maioria das pousadas. Hospedaríamos em Valença, mas seguimos para Conservatória. Por sorte encontramos a pousada Em Canto, onde fomos excelentemente recebidos pelos proprietários Elísia e Amilton e eles sempre estão abertos para receber maravilhosamente bem. Inclusive dar dicas interessantes para “turistar” por lá. Seguimos todas e não nos arrependemos. O café da manhã tem uma canjica deliciosa, esta nunca falta e me fez voltar aos tempos de criança. Olha eu aí no túnel do tempo!

Como os restaurantes estavam fechados, fomos até a pizzaria delivery que tinha umas mesas na calçada, sentamos as 18h e só saímos de lá quase 1h da manhã. A prosa estava tão boa que não queríamos ir embora. Ali conhecemos o Sr. Heitor, uma figura, bom de papo e cheio de vida e histórias nos seus quase 86 anos.

Dia seguinte mudamos para pousada Balé dos Vagalumes que já tínhamos reservado.  Fica bem no centro, em frente a Maria Fumaça. É um sobrado português que não perdeu seu estilo secular. Arquitetura do passado misturada a construção moderna, preservando a história daquele lugar. Edu e seu violão era o seresteiro que alegrava nossos cafés da manhã com músicas agradáveis e fazia a gente entrar no clima da cidade.

São muitas fazendas para visitar, tem algumas logo ali e outras acolá. Para andar de moto nas maravilhosas estradas de Valença RJ) a Santa Rita de Jacutinga (MG), passando pela Serra das Belezas, optamos pelo acolá.

A primeira foi a fazenda Vista Alegre. Se eu falar “sem” palavras, não poderia escrever nada, mas neste caso são “cem” palavras, centenária, maravilhosa. Realmente daria umas cem páginas falar sobre esta fazenda. Tudo nela é lindo, principalmente a história do passado e do presente. A Vera que nos recebeu maravilhosamente bem, nos deixou encantados com tudo que falava. Lembra do túnel do tempo, então, entramos nele desde a hora que sentamos para conversar. Enquanto ela falava e mostrava todos os ambientes e móveis em perfeitas condições, ia me transportando para aquele mundo. Felizmente era uma fazenda onde a libertação dos escravos aconteceu mesmo antes da Lei Áurea. O proprietário criou a primeira escola de alfabetização para os filhos de escravos no Brasil e o mais surpreendente, construiu também uma escola de música para os mesmos. História bonita é o que não falta, principalmente a forma da aquisição da fazenda e como esta família cuida deste paraíso. Não é um hotel fazenda, mas eles hospedam, fazem eventos e visitas guiadas. Tem até um brunch do Visconde. Tudo tem que agendar!
Ficou curioso? As fotos mostrarão um pouco da Fazenda, mas se quiser viajar no tempo e conhecer história toda, terá que ir até lá.

A segunda fazenda, a qual visitamos no sábado, também ficava acolá. Uns 40 km de distância de Conservatória, na divisa de RJ com MG. A Fazenda Santa Clara era completamente diferente da Vista Alegre, aliás, totalmente o oposto. Era uma fazenda de reprodução de escravos. Os portugueses mandaram buscar na África 400 negras parideiras. Quando o navio atracou já eram 800 escravos. Todas as escravas estavam grávidas. Não é uma fazenda conservada, pelo contrário, está bem abandonada. Também tem visita guiada as sextas, sábados e feriados. A Rose, uma das herdeiras, nos mostrou e contou a terrível história que aconteceu naquele lugar.
Só de pensar dá até arrepios. Chega a ser assustador. Nada diferente do que aprendemos ou lemos a respeito, mas estar pessoalmente onde toda aquela tortura aconteceu é muito repugnante.  A maldade do fazendeiro que ali morava juntamente com sua esposa é de uma tristeza profunda. Não poderia ser diferente, onde há maldade, há muita tristeza. A sala de tortura é um espaço que poucas pessoas conseguem entrar. É um ambiente muito pesado.
A ganancia é ponto principal daquela fazenda. Imagina que na casa tem 365 janelas onde 35 são falsas. Os franceses enviavam dinheiro para o fazendeiro colocar janelas no ambiente em que os escravos dormiam, pois ele mandava pintar venezianas iguais as da casa para parecer que tinha usado o dinheiro para tal finalidade.  Hoje, ouvindo a real história da briga pela divisão da fazenda, dá para entender tal enrosco. Essa maldade que relatei aqui não é quase nada do que acontecia naquela época, tem histórias ainda piores.
Infelizmente temos que relembrar a história para vermos o quão cruel é o homem. O que um ser humano é capaz de fazer com o outro e com a natureza. Lógico que quando escolhemos algo para relembrar, optamos pelo belo, pelo agradável, mas nem sempre foi assim.

Achei muito importante conhecer as duas realidades, Vista alegre e Santa Clara. Filosofando um pouco sobre o assunto, vemos que na vida sempre podemos escolher o caminho que vamos seguir. Por coincidência escolhemos duas muito diferentes que só fez nos acrescentar culturalmente e emocionalmente. Não tem como não se envolver com histórias tão diferentes. Isso nos prova que se erramos lá no passado, podemos sim nos arrepender e tentar corrigir, porque sempre haverá dois caminhos.

Falando agora de coisas boas, música e poesia. Não tem quem não goste. Aqui em Conservatória o que prevalece é a seresta. Tem que gostar para seguir os seresteiros a partir das 23 horas as sextas e sábados, com ou sem sereno, caminhar pelas ruas carregando seus violões tocando, cantando e declamando poesias. Algumas confesso que lembrei, mas outras nunca ouvi. É uma experiência diferente, que agrada quem gosta de canções sentimentais. Talvez por isso seja uma cidade muito visitada por pessoas da melhor idade. Pessoas que querem entrar no túnel do tempo e ouvir as Cantoras do Rádio como: Dalva de Oliveira, Maísa e Carmem Miranda. A Sonora, uma casa de show em Conservatória conta com a presença de Juliana Maia interpretando essas famosas cantoras. O ingresso custa R$ 20,00, tanto para o show de sexta quanto para o show de sábado onde Juliana interpreta Elis Regina com músicas que talvez ela, caso ainda estivesse viva, cantaria em Conservatória.

Quanto a gastronomia, conservatória, no meu ponto de vista, não é um lugar que esta muito preocupado com este tipo de turismo. Almoçamos e jantamos no restaurante Do Ré Mi. Sempre escolhíamos comer na área interna do que na área externa devido ao grande número de cachorros que ficam soltos pelas ruas. Os turistas acabam alimentando estes animais de forma errada e assim eles não saem de perto da mesa. Se ainda fosse um ou outro, mas não, forma uma fila e aí realmente fica difícil. Nada contra os animaizinhos, mas nem sempre eles são amáveis, tem alguns que chegam a rosnar para as pessoas.

Como a cidade é movida a música, não poderia faltar as antigas marchinhas de carnaval. Em Conservatória eles comemoram em outubro, chamado de Carnaval Antigo. Dizem que este é ainda melhor do que o comemorado no começo de cada ano. A cidade fica lotada e tem que fazer reserva com muita antecedência.

Outro evento que se fala muito na cidade é a festa dos Quilombos. Não sei se indicaria, mesmo não sendo a época, resolvemos visitar, mas achei muito abandonado. Como sempre os negros são deixados de lado na nossa sociedade. Reflexo do nosso passado e isso nós vimos nitidamente quando chegamos lá.

Se você pudesse entrar no túnel do tempo, onde escolheria voltar? Muitos são os lugares interessantes, não é? Mas para querer voltar a algum lugar é preciso conhecer. Pois bem, você agora tem um pouco do nosso ponto de vista. Que tal conhecer Conservatória e tirar suas próprias conclusões?

 
Viagem Realizada 01/09/2016 a 04/09/2016
Quilômetros Rodados 950km (ida e volta + passeios)
Despesa Combustível R$ 240,00
Despesa Alimentação Aproximadamente R$100,00 por casal e por refeição.
Despesa Hospedagem Algumas opções com diária a partir de R$ 190,00
Sites Pesquisados / Apoio www.portalvaledocafe.com.br/
Hospedagem 1 – www.pousadaemcantto.com.br/
Hospedagem 2- www.pousadabaledosvagalumes.com.br
https://fazendavistaalegre.wordpress.com/