Expedição Machu Picchu – Fim de um planejamento trabalhoso e também muito prazeroso. Fim dos 10.570 km percorridos por estradas do Brasil, Argentina, Chile e Peru. Fim de férias. Fim de pneu traseiro. Fim de relação.
VERSÃO PILOTO
Dia 18/12/08 – 1º dia – São Paulo / Pato Branco
6 horas – Começa nossa jornada, apesar de tão cedo o trânsito já estava infernal. Vamos iniciar um dos piores trechos da viagem S. Paulo / Curitiba, o céu estava encoberto e a previsão do tempo já era pessimista, mesmo assim, seguimos driblando a chuva e os caminhões, até Curitiba, e não teve jeito, tivemos que colocar aquelas roupas fashion de chuva, a nossa sorte é que foi por pouco tempo, e por incrível que pareça, quanto mais nos aproximávamos de Pato Branco (PR) mais o tempo melhorava. Chegamos às 19h com o céu azul e o sol a pino, a tempo de pegar o Pato Branco acordado. Amanhã tem mais…
Dia 20/12/08 – 3 º dia – Corrientes / Salta
Aconteceu um pouco de tudo hoje. Saímos de Corrientes com o céu nublado, para nossa alegria, mas por pouco tempo, logo a chuva nos pegou e tivemos que vestir a roupa de chuva. Foi o tempo de colocar e ter que tirar, pois o sol não deu trégua e nos acompanhou a viagem inteira. A temperatura estava uns 40 graus, mas a sensação sobre a moto era de 45º.Obs: A todos os amigos que nos mandam e-mails, agradecemos pelo apoio e carinho e responderemos a todos assim que for possível.
Dia 21/12/08 – 4 º dia – Salta / San Pedro
Como precisávamos descansar resolvemos sair mais tarde. Por um lado foi bom, por outro acabamos chegando muito tarde em San Pedro. De Salta a Susques é um trecho delicado de autonomia, se não fosse os três litros reservas que levamos a parte, teríamos ficado no deserto sem combustível. No segundo trecho da viagem que foi de Susques a San Pedro apesar das belas paisagens, pagamos o preço por ter saído mais tarde, porque além do frio no deserto tivemos que enfrentar mais de 100Km de um forte vento lateral, que em algumas situações era preciso engatar 2º marcha para poder vencer a força do vento. No fim tudo deu certo e estamos prontos para a próxima etapa.
Dia 22/12/08 – 5 º dia – San Pedro / Tocopilla
Saímos de San Pedro de Atacama as 11:30 agora com a próxima parada em Tocopilla. Antes, porém, fomos a Chuquicamata conhecer a maior mina de cobre do mundo. É impressionante a grandiosidade não só da mina e dos caminhões que transportam as “rocas”, mas de alguns números: Cada caminhão tem uma capacidade de carga de 400t; Tanque de combustível de 4.000l; Autonomia 24h; Cada Pneu custa U$ 30.000 e dura 1 ano (cada caminhão tem 6 pneus); A frota atual é de 99 caminhões; 22.000 funcionários se revezam em 3 turnos diários 7 dias por semana. Após a visita de pouco mais de 1 hora, que é feita num ônibus da própria Copelco (estatal que controla mina), de segunda a sexta as 14h. Este passeio é gratuito. Seguimos rumo a Tocopilla, uma cidade fora dos padrões, pelo menos dos meus. Depois de seguir 160 quilômetros pelo deserto, você desce a montanha e avista o oceano pacífico espremida entre eles esta a minúscula Tocopilla. Agora tchau que eu vou dormir, amanhã conto o resto.
Dia 23/12/08 – 6 º dia – Tocopilla / Arica
O Chile é um país surpreendente. Saímos de Tocopilla rumo a Iquique, agora com novo visual, a direita montanhas gigantescas e a esquerda o pacífico, uma estrada lindíssima, uma espécie de Rio-Santos sem verde e sem atlântico. Apesar do mar ao lado esquerdo o cenário ainda é de deserto, com exceção de algumas figuras que aparecem na estrada, como um cara que no meio do nada aparece caminhando com seu cachorro. De onde ele saiu e pra onde ele vai, só Deus sabe. Iquique me lembrou do Singapura do Maluf, na av. da praia tudo lindo, belos prédios, restaurantes, nos fundos um favelão. De Iquique para Arica voltamos a subir a montanha, mais 320 km perto do céu até descer novamente de encontro com o mar, faltando 5 km tive que fazer uso, pela segunda vez, da minha reserva especial de gasolina. Arica parece ser uma cidade bem legal de passar um ou dois dias, muitos bares e restaurantes que parecem ser bons, vou saber disso daqui a pouco. Até amanhã, que os Piscos me esperam.
Dia 24/12/08 – 7 º dia – Arica / Arequipa
Peru – Festival de carimbos na aduana. Foi a aduana mais demorada que enfrentamos, mas enfim entramos no Peru (no bom sentido, é claro), é impressionante como a mudança de fronteira muda também o visual, o Céu não é mais azul e as montanhas agora são cor de terra, rodamos kms no topo delas, depois descemos beirando precipícios e de repente aparece uma uma plantação verdinha, umas vacas pastando, é surpreendente.
A chegada em Arequipa merece um capítulo a parte, logo que chegamos no centro ficamos assustados, o transito é caótico, ninguém respeita ninguém, os pedestres parecem que são caçados pelos carros, mas depois de algumas horas é divertido. Para minha surpresa achamos um ótimo hotel, nossa ceia de natal será aqui no quarto mesmo. Feliz Natal pra todos, e até amanhã.Ah… amanhã começamos a subir, Puno fica a 3.800 metros e começa o frio.
Dia 25/12/08 – 8 º dia – Arequipa / Puno
Puno – 3.820 metros de altitude. No caminho, sobre as montanhas chegamos a 4.000 metros, indescritível a paisagem ao lado das nuvens, as fotos podem dizer melhor. O frio também é intenso, três graus, é preciso estar bem equipado, mas vale muito a pena.
Gostei de Puno, o centro com as ruas apertadas, os taxis-bicicletas são engraçados. Aproveitamos que chegamos cedo e fomos conhecer o lago Titicaca, e a comunidade indígena Uro, que mora em ilhas flutuantes. Passamos também por Juliaca, e apesar de todos os avisos de atenção, cuidado, não tivemos nenhum problema, graças a Deus. Amanhã seguimos para Cusco. Até lá.
Ps. A moto está indo muito bem na altitude, não teve nenhuma mudança no comportamento, já não posso dizer o mesmo de mim, começo a sentir um pouco de falta de ar.
Dia 26/12/08 – 9 º dia – Puno / Cusco
Depois de 5.158 km chegamos a Cusco (PE). Agora é só voltar.
Logo na saída do hotel em Puno, meu coração ficou apertado (pra não dizer outra coisa), a moto não queria pegar, sinal da gasolina peruana, mas depois de varias insistências e algumas preces ela pegou e partimos rumo ao nosso destino final, Cusco, tendo que passar mais uma vez pela difamado Juliaca, dessa vez não tivemos muita sorte, fomos assaltados por um guarda, que me mandou parar por estar com o farol ligado (segundo ele, aqui é proibido durante o dia), ele queria de todo o jeito as minhas luvas, mas no final se contentou com 10 soles, que a Débora mesmo acabou negociando (já está ficando expert nisso). Puts, como esses peruanos enchem o saco por causa do farol, me avisam o tempo todo que está ligado. O Trânsito no Peru é uma calamidade, ninguém respeita nada e todo mundo buzina o tempo todo.
Bom, saímos de 3.820 metros de altitude (que já foi muito difícil de dormir) e chegamos até 5.500 no topo das montanhas, onde até para comer um pão estava difícil de respirar junto. Chegamos em Cusco a 3.350 metros e como viemos nos aclimatando pelo caminho, agora está tranquilo. A poucos quilômetros de Cusco fomos recepcionados pela chuva, que já estava prometida, por esse motivo hoje temos poucas fotos da cidade, amanhã com certeza estará recheado.
A moto terá dois dias de descanso, enquanto vamos para o Vale Sagrado e Machu Picchu de trem, aliás, adoro viajar de trem também.
Dia 27/12/08 – 10 º dia – Cusco / Vale Sagrado
Cusco – Patrimônio Cultural da Humanidade. Difícil descrever com palavras o Vale Sagrado, além da beleza natural do lugar ele tem uma energia especial, emociona pensar que nos anos de 1400 / 1500 uma civilização tinha conceitos de viver em sociedade e respeitar a natureza que até hoje são atuais. Os modelos de construção, os museus arqueológicos, a filosofia dos Incas. Pena que com o passar dos anos o homem evoluiu em tantas coisas, mas menosprezou conceitos básicos. Não dá pra descrever aqui toda a história de civilização Inca, nem dá pra transmitir a emoção que senti nesses lugares. Amanhã vamos a Macho Picchu, acho melhor deixar pra contar o resto depois, hoje eu adorei. Ah! Esse lugar tem a cara da minha irmã.
Beijos a todos.
Dia 28/12/08 – 11 º dia – Cusco / Machu Picchu
Machu Picchu – Missão Cumprida
Com a graça do Deus Inte (Sol), que esteve presente o dia todo, tivemos o prazer de conhecer a “Velha Montanha”.
O Passeio a Machu Picchu é puxado, o guia nos pegou no hotel às 06h10min para embarcarmos no trem rumo a Águas Calientes às 7:00, depois de 4hs chacoalhando no trem, pegamos um ônibus que em mais 30 minutos nos deixou no portão de acesso do parque (nós e mais um batalhão de turistas do mundo todo). No começo fiquei meio assustado com o número exagerado de visitantes, parecia que estávamos na fila do zoológico. Mas, fomos seguindo o guia, atento a todas as explicações da civilização Inca e depois ficamos com a Montanha, quase que só pra nós.
Depois de andar muito, tirar muitas fotos às 17h pegamos o trem de volta a Cusco, chegando às 21h15min.
Hoje concluímos a Expedição Machu Picchu. Agora nos resta concluir a Expedição São Paulo, que iniciaremos amanhã.
Dia 29/12/08 – 12º dia – Cusco / Arequipa
O Peru é um país de contrastes. A minha primeira impressão quando chequei por aqui, foi de um país pobre, com um trânsito caótico, sem muita infra-estrutura. Hoje, depois de três dias de Peru, já começo a sentir saudades. A pobreza não é um estado de espírito, às vezes precisamos tomar um banho de humildade ou humanidade para relembrarmos dos verdadeiros valores da vida.
No nosso trecho de viagem de hoje, de Cusco a Arequipa, em apenas 650 km, é incrível as mudanças não só de clima que passamos, mas também de geografia, história e costumes de cada pedacinho desse país. Detalhes que só viajando de moto podemos ver, sentir e se emocionar. É incrível poder andar de moto no topo das montanhas, ao lado das nuvens, e imaginar de passagem, a vida que os moradores dessa região levam, cuidando de seus animais, muitas vezes apenas um ou dois, cuidando da terra, independente do frio, do tempo ou das regras que estamos acostumados a viver no nosso dia-a-dia.
Viajar é sempre um aprendizado. Viajar de moto é como fazer parte de um quadro que estamos ajudando a pintar.
Dia 30/12/08 – 13º dia – Arequipa / Iquique
Vou ser muito breve hoje, como dormimos tarde ontem e com a mudança de fuso horário (no Peru – 3h e no Chile – 1h) estamos atrasados e ainda preciso trocar o óleo da moto e procurar o suporte do GPS que sumiu. Só vou falar uma coisa, 3 litrinhos de gasolina extra fazem milagre.
FELIZ ANO NOVO.
Dia 31/12/08 – 14º dia – Iquique / Antofagasta
Bem amigos, (isso lembra alguém?)
De Iquique a Antofagasta a estrada é pra curtir o visual beirando o mar, lindo.
Vamos passar o réveillon em Antofagasta, é uma cidade bem legal, com muita infra, praia e o povo é bem receptivo, tanto que fomos trocar o óleo da moto e o dono da loja acabou nos convidando para passar o réveillon na casa dele (a moto é muito legal por isso, fazemos amigos por onde passamos).
E aqui vai uma dica para quem tiver passando por estas bandas e precisar de uma troca de óleo ou alguma ajuda mecânica:
Lubricentro Parada – Av. Argentina, 2511 Antofagasta – Procure o Roberto, é brother.
Jáiremos pra praia comemorar o Ano Novo, desejo a todos que nos acompanham um ano cheio de saúde e muita felicidade, porque no fun do é isso o que importa.
Um grande beijo e Feliz Ano Novo!
Dia 01/01/09 – 15º / 16º dia – Antofagasta / Jujuy
Saímos de Antofagasta às 11h, tínhamos um trecho longo pela frente até Jujuy, perdemos algum tempo nas aduanas e um outro tempo em San Pedro, fazendo as últimas comprinhas. Saindo de San Pedro, subimos a montanha até seus 5.000 metros, com direito a paradinha para fotos a frente do Lincancabur, resolvi acelerar porque queria descer dela antes do sol se por, quase deu. Nosso atraso nos rendeu duas coisas, uma boa e outra molhada:
A boa foi estar acima das nuvens, é incrível, parecia que estava pilotando um avião iniciando o procedimento de aterrissagem. Quando começamos a descer a montanha entramos nas nuvens, a visibilidade era de uns 2 metros, isso já era noite, e pra começar o ano com a alma lavada pegamos 70 km de chuva e neblina até Jujuy. Mas o importante é chegar bem, e chegamos. Bem molhados!
Dia 03/01/09 – 17º dia – Salta / Corrientes
Bom, o trecho de hoje não tem muito que comentar, é como se fosse uma parte de deslocamento de um rally, sem muitos atrativos. Acho que aos 40.000 km da V-Strom a relação começa a pedir socorro. (Esclarecimento as mulheres: a relação que me refiro é a coroa, corrente e pinhão, ok?)
Dia 04/01/09 – 18º dia – Corrientes / Barracão
Piloto (by garupa)
Acho que hoje ele não passa por aqui. Precisa dormir um pouquinho.
Dia 05/01/09 – 19º dia – Barracão / Curitiba
Agora faltam só 447 km. Chegamos em Curitiba, vindo de Barracão por estradinhas bem bonitas cercadas de verde dos dois lados, só que não rende, tem que fazer um festival de ultrapassagens. Bem, no final com muita sorte, conseguimos chegar antes da chuva. Agora jantaremos na casa de nossos anjos da guarda, Ana e Ronald.
Dia 06/01/09 – 20º dia – Curitiba / São Paulo
Fim da Expedição Machu Picchu. Fim de um planejamento trabalhoso e também muito prazeroso. Fim dos 10.570 km percorridos por estradas do Brasil, Argentina, Chile e Peru. Fim de férias. Fim de pneu traseiro. Fim de *relação.
*Calma pessoal, a relação que me refiro é a coroa, corrente e pinhão da moto. Minha relação afetiva com a minha inseparável garupa Débora, continua cada vez mais forte.
Acho que agora só tenho que agradecer:
A todos os amigos, que de alguma forma participaram de nossa expedição, mandando mensagens de apoio, nos incentivando e dando dicas por todo o nosso roteiro.
Um agradecimento especial ao Sid, César, Gugu e ao Vidotto por tantos conselhos, dicas e mensagens durante nossa viagem.
Um agradecimento especial a todos nossos familiares e amigos, que mesmo com os corações apertados, nos acompanharam e nos apoiaram em mais uma aventura.
Agradeço a todos os irmãos brasileiros, argentinos, chilenos, peruanos que conhecemos pelo caminho. Obrigado pela acolhida, pela ajuda, pela receptividade, pelos acenos por todas as estradas em que passamos, é muito bom saber que por onde passamos deixamos amigos.
Agradeço mais uma vez a incansável V-Strom, que mais uma vez, se mostrou guerreira e confiável por todos os terrenos trilhados.
Agradeço ao meu inseparável “chicletinho”, que em todos os momentos esteve sempre ao meu lado, sempre me apoiando e sempre curtindo muito todas as situações que passamos, seja num bom restaurante ou numa ceia de ano novo regada a pisco e a pão duro. Já não é a primeira, nem a segunda vez que me orgulho de ter essa companhia em minhas aventuras. Realmente sou uma pessoa de sorte, uma mulher assim é para poucos. Obrigado por acreditar e confiar em mim “chicle”. Te Amo.
Agradeço a Deus por ter nos proporcionado, mais uma vez, conhecer pessoas, culturas, países diferentes, e tudo isso sem nenhum tipo de problema.
Espero poder contar com todos para a próxima.
Muito Obrigado.
VERSÃO GARUPA
Dia 18/12/08 – 1º dia – São Paulo / Pato Branco
Primeiro dia de Viagem- Confesso que os 200 km iniciais foram difíceis, por dois motivos: Por causa da parte física, que realmente demora uns 2 dias para adaptar e por causa do medo do que vem pela frente. Este sentimento é muito importante, pois é ele que fará com que tenhamos cuidado e prestemos mais atenção em todos os detalhes. Um outro motivo é a saudade dos familiares e dos amigos, afinal de contas vamos passar o Natal e o Ano Novo na estrada.
Como garupa curti a estrada, acho este trecho muito bonito e aproveitei para começar a tirar umas fotos, apesar de ser uma rota de deslocamento, sem fins turísticos, não dá grandes resultados, mas dá para vocês terem uma idéia do que estamos vendo e vivendo.
Uma parte interessante é que passamos por uma reserva indígena, ao mesmo tempo foi um pouco deprimente, pois não gostei do que vi, crianças a beira da estrada vendendo algumas coisas.
Quando completou 8 horas de viagem, comecei a sentir dores no corpo e ainda faltava mais 4, dá para imaginar? Tudo bem, o dia estava lindo e com muito sol então dava para esticar mais um pouco. Pato Branco é uma cidade muito agradável. Encontramos logo um hotel para pernoitar. Ainda bem que não causou estresse esta parte.
Saímos para jantar, porque ninguém é de ferro. Impressionante a diferenças de valores quanto saímos de São Paulo, um lanche aqui é muito barato. Enquanto comíamos aproveitamos para escrever o texto sobre o primeiro dia e acertar alguns detalhes para os outros. O começo é sempre complicado, mas depois acredito que conseguiremos nos organizar. Mais tarde voltamos para o hotel para preparar os arquivos e enviar os e-mails.
Dia 19/12/08 – 2 º dia – Pato Branco / Corrientes
Eu, o Zé e a Barata. Isso mesmo, nós tivemos hóspede a noite passada. Pior do que imaginar que ela existe é ter a certeza que ela esta presente de corpo e alma. Tudo bem, o calor e o cansaço eram tão grandes que acabei esquecendo que ela existia. O dia estava novamente muito quente. Era 7h da manhã e o calor já era de matar. Hoje era o dia que passaríamos pela aduana e entraríamos na Argentina. Exigiram todos os documentos, principalmente a carta verde. Deu tudo certo, mas logo ali na frente, uns 2km já aconteceria a nossa primeira parada. Desce da moto e mostra todos os documentos novamente. Temos muita sorte com os policiais argentinos. Fizeram muitas perguntas e logo nos liberaram. Anda mais um pouquinho e uma nova parada e assim sucessivamente… resolvemos parar até quando não pediam aí aproveitávamos fazíamos um alongamento e batia um papinho, com direito a souvenir do Brasil e tudo. Levamos uns chaveiros com a bandeira do brasil para presentear algumas pessoas que diziam ter um certo carinho por nosso pais. Diferente da fama que tem os policiais da Argentina, até agora não tivemos nenhum problema.
Seguimos viagem com muita cautela, no começo a estrada parecia um tobogã, cheia de subidas e descidas e de borboletas amarelas kamikazes. E o calor nos matando, mesmo em meio à mata fechada. Logo a diante paramos em Posadas para tomar um lanche, mas para nosso azar estava tudo fechado. É que nessa região eles fecham às 12h e reabrem às 16hs. Comemos o que encontramos para poder seguir viagem. Isso já eram quase 4h da tarde e o sol quase nos matando. A sensação térmica era de mais ou menos 42 graus. Parece que não, mas a viagem se torna muito cansativa e pra ajudar a paisagem era sempre a mesma e aquela reta que nunca acabava. Pra piorar a situação, aconteceu o nosso primeiro susto da viagem, um cachorro cruzou a nossa frente e ficou parado olhando pra nossa cara, deu até dó e o danado era bonitinho que fiquei até sem jeito de brigar. Queria ter fotografado, mas na hora fiquei sem iniciativa, ou eu via o que poderia acontecer ou registrava o momento. Pena, ficou registrado só na memória.
Esta estrada entre Posadas e Corrientes é muito perigosa por causa dos animais que cruzam a pista. Felizmente o ABSZÉ funcionou. Parece que tudo aconteceu neste dia, nosso primeiro estresse para encontrar um hotel. Pensamos até em desistir e seguir em frente, mas já eram 9h da noite e resolvemos pernoitar em Corrientes mesmo. Ah! O Piloto não escreveu hoje porque ele estava muito estressado e cansado e resolveu dormir. Depois de tanto tempo procurando hotel sem muito sucesso, imagina né? Até um argentino muito simpático nos ofereceu ajuda, mas sem sucesso, porque a gente estava numa ira só. O coitado não entendeu nada.
Amanhã o piloto aparece por aqui.
Dia 20/12/08 – 3 º dia – Corrientes / Salta
Esta noite não tivemos hospede, também pelo preço do hotel seria muito desonesto dividir espaço com um ser não pagante. Depois de todo o estresse da noite anterior e de quase termos voltado para São Paulo resolvemos tudo com uma boa conversa. Não pense que viajar a dois não tem problemas, o bom é que aconteça no começo da viagem para que as coisas sejam resolvidas logo no início.
Hoje pagamos o nosso primeiro pedágio policial, isso mesmo, prefiro pensar assim já que em quase toda a Argentina moto não paga pedágio para rodar em bons asfaltos, então para não ficar com raiva faz de conta que é um pedágio. Retiro parte do elogio que fiz aos policiais daqui, realmente é como algumas pessoas relatam, eles só faltam pedir descaradamente e como estamos de férias em outro país o melhor é resolver logo e não aumentar o problema. Nosso azar é que eram os nossos últimos 50 Pesos para abastecer a moto e o filha da mãe teve que ficar com ele. Cá pra nós, acho que o Zé Carlos quis passar por esta experiência só para saber o seu poder de barganha em portunhol.
Na minha opinião este foi até agora a parte mais chata da viagem, a minha esperança é que melhore daqui pra frente. Diferente do sul da Argentina, onde há mais lugares turísticos para se visitar e tirar fotos. O calor estava pior que o dia anterior, a impressão que tive é que fui até o inferno e abracei o diabo. Não é a toa que tem uma região com o nome de Pampa del Inferno O calor que subia do asfalto vinha até a cabeça, parecia uma bica de suor. Nada adiantava e para piorar tinha que desviar o tempo todo dos passarinhos. Um não teve a sorte de ficar por aqui e teve que voar mais alto. A parte boa desta viagem é que conhecemos um casal de brasileiros, o Ronald e a Ana, que pararam no posto policial para nos oferecer ajuda e tivemos o prazer de mais tarde em Salta, jantarmos juntos.
Grande noite!
Dia 21/12/08 – 4 º dia – Salta / San Pedro
Agora posso dizer que começou a viagem. Só pelas fotos da para ter uma ideia. Realmente foi como eu imaginei, aquele trecho de Eldorado a Currientes é um tédio. Quando saímos de Salta em direção a Calama, não imaginei como seria fresca a viagem e então começamos a curtir. Passamos por lugares lindos, todo detalhe era importante e não podia deixar de registrar. Neste trecho tem um salar, fica um pouco antes de Susques. Tem banheiro limpo a 1 Peso e também umas pessoas que ficam ali vendendo artesanato feito em sal. O traje deles assusta um pouco, mas depois da explicação, faz sentido. Eles ficam praticamente com o corpo todo coberto para se proteger do calor, do sol e do branco do sal. Paramos em Susques para abastecer (último posto de abastecimento antes de chegar a San Pedro neste período da viagem) Nossos anjos da guarda estavam novamente junto com a gente, os chamo assim, mas também poderia ser chamado de carro de apoio. A Ana e o Ronald nos encontraram pelo caminho e toda vez que parávamos vinha o serviço de bordo, água fresca e geladinha. Que mordomia não? Quando mais andávamos mais a paisagem ia se transformando, achei interessante, pois seria a nossa climatização. Chegar ao deserto do Atacama de avião é muito diferente de você chegar pela estrada, falo isso porque vivemos esta experiência o ano passado. O choque é bem menor e a gente vai se adaptando aos poucos. Pra quem tem dificuldade com altitude, fazer desta forma ajuda muito. Não senti muito os sintomas da montanha, não sei se por coincidência ou não, fui a única que não comeu nada, somente o café da manhã, talvez seja por isso que eu não fiquei enjoada como os outros. Não posso deixar de reforçar o que o Zé Carlos disse logo a cima, passar pelas montanhas um pouco mais tarde, tipo 7h da noite não foi uma boa escolha. Realmente tínhamos que sair mais cedo para não passar o que passamos. O frio era de lascar, parar para se agasalhar nem pensar, pois com o vento era impossível fazer tal estripulia, a única coisa que consegui colocar foi uma luva para não ficar totalmente congelada. Em Susques tem uma pousada (130,00 pesos) e um restaurante, caso não queiram passar por esta situação podem se hospedar lá. O pescoço estava super tenso e as pernas doíam muito por causa da força dos ventos. Contava os minutos para chegar logo, tamanho era o desespero. Finalmente chegamos em San Pedro, apesar de nosso destino ser Calama, mas seria impossível e até mesmo irresponsável de nossa parte se fossemos até lá. A única coisa que queríamos era um banho quente e um bom prato de sopa.
Dia 22/12/08 – 5 º dia – San Pedro / Tocopilla
Hoje foi a despedida dos nossos mais novos amigos. Eles são muito engraçados, acredita que além do kit polícia argentina até penico eles trouxeram? Vamos sentir saudades. Mudamos nosso roteiro. Nossa parada seria Antofagasta, mas por causa da visita a mina resolvemos dormir em Tocopilla. Não acho que foi uma boa escolha, mas devido as circunstâncias foi a decisão que tomamos. Primeiro chegamos em Calama, uma cidade complicada em todos os sentidos. Fiquei insegura porque todos com quem conversei pediram para tomar cuidado com a moto, capacetes e bagagens. A mina de Chuqicamata vale a pena visitar, (procure o posto de informação ao turista e se inscreva antes de ir) só acho que deveria ser um pouco mais organizado. Hoje foi um dia tranquilo porque rodamos pouco e acho que foi bom pois assim descansamos, afinal já são 05 dias na estrada passando por momentos de muito frio e muito calor e isso realmente cansa, principalmente no deserto aonde o vento é muito forte. Tocopilla é uma cidade muito estranha, apesar de pouco tempo não consegui decifrar como ela funciona. Parece uma coisa, mas é outra. Para pernoitar não tem boas opções.
Agora para fechar a noite com chave de ouro me fizeram passar por um susto que estou com taquicardia até agora. Uma senhora que eu nunca tinha visto na vida bateu em nossa porta e disse:”La moto és tuia? Levaram-na.”
Nunca mais vou esquecer esta frase Dei um grito que a coitada ficou super assustada e pedia mil desculpas pela brincadeira e o Zé Carlos, coitado, não sabia o que fazer para me socorrer, pensou que eu ia ter um treco. Ela só queria pedir para estacionar a moto em outro lugar, acredita?
No dia seguinte não sabia o que fazer, continuava a pedir desculpas, mas eu ainda continuava tão apática que nem conseguia brigar com ela ou dizer qualquer coisa. Tudo bem já passou só espero não passar por outra.
Dia 23/12/08 – 6 º dia – Tocopilla / Arica
Tudo está indo muito bem, apesar de Tocopilla não ser um lugar legal para dormir, foi mais ou menos um ponto interessante para se hospedar. Isso porque podemos apreciar a costa do pacífico bem descansados, diferente se tivéssemos feito isso num final de tarde. O Chile é um país curioso, você está num lugar que não é bonito e de repente surge do nada um espetáculo a nossa frente. Viajar com paisagens bonitas cansa muito menos e dá mais motivação. O visual até Iquique é muito lindo, só estraga quando chega na cidade que ao meu ver tem uma discrepância muito grande. Muitas pessoas vêm de longe voar de paraglider. Com certeza a vista lá de cima deve ser bem bonita, mas acredito também que ver toda aquela pobreza deve incomodar um pouco. A saída da cidade é bem o retrato do que estou falando, tem até uma favela com o nome de Ciudad de Dios.
Todo este trajeto foi necessário usar roupa de frio porque ainda continua com muitas serras e muito vento, pelo menos nesta época do ano. A estrada volta a ficar entediante, mas de repente surge uns abismos e no meio do vale, rodeado por gigantescas montanhas, tem um pequeno vilarejo com um córrego e com algumas vegetações, este é mais ou menos o desenho do trajeto —nununu—-. Confesso que senti um pouco de medo, porque neste trecho tem muitas curvas beirando o precipício, a sorte é que a estrada e bem sinalizada e o asfalto é excelente. Chegando a Arica já gostei logo de cara do lugar. Não é uma cidade pequena, mas me pareceu bem simpática. Tem bons lugares para dormir e comer e ainda com preços justos. Uma dica é procurar “Los Residenciales”, é mais barato que os hotéis da orla e fica próximo ao centro, assim dá para sair a noite sem a moto. Afinal de contas ela também precisa descansar.
Dia 24/12/08 – 7 º dia – Arica / Arequipa
Véspera de Natal, só não vamos passar sozinhos porque vocês estão viajando com a gente e sempre nos mandando e-mails de incentivo. Já estou com saudades do Brasil, o nosso país é muito lindo, só damos conta disso quando estamos distante dele, é ai que percebemos o quanto ele é “rico”.
Antes de passar pela aduana peruana, logo quando sai de Arica, deve -se passar em um posto (barraquinha com uma senhora na própria rodovia) que vende os papéis por 750 Pesos (para o casal + a moto- ida e volta). Isso facilita muito o processo, principalmente se preencher ali mesmo.
Entramos no Peru, por favor, sem piadinhas, tá? Deixamos para trás Arica e nossas amigas peruanas que se encantaram com a moto e com a nossa viagem.
A aduana do Peru é a mais bonita que já passamos, mas também é a mais burocrática.
Saímos do Chile e é incrível como o céu já muda. No Peru o céu parece que está sempre nublado, mas os tons das montanhas continuam o mesmo, um pouco só mais escuro, já estou me sentindo meio bege. Nunca estive na lua, mas a impressão que eu tenho é que estou nela.
Estou estranhando muito os lugares por onde estamos passando, mas deve ser ainda o período de adaptação. Se por um lado o Peru é bem diferente do Brasil, por outro se parece muito, as pessoas aqui são muito prestativas. Paramos para abastecer em um posto e o proprietário logo veio nos ajudar. Muito sorte a nossa, porque Arequipa é uma cidade muito grande e com certeza teríamos dificuldade de nos hospedar. Ele nos indicou um taxista e pediu que nos deixassem em um hotel próximo a saída para Puno assim nós sairíamos daquela muvuca. Nos aconselhou a não ficar pelo centro porque não é seguro. O hotel realmente é muito bom (Hotel Yanahuara) e o bairro me pareceu tranquilo e tem uma praça com uma vista para un dos vulcões de Arequipa “o Vulcão Misti”.
Tivemos sorte, pelo menos vamos passar nosso Natal sem estresse. Feliz Navidad!
Dia 25/12/08 – 8 º dia – Arequipa / Puno
Saímos facilmente de Arequipa, nem precisamos contratar um taxi e segui-lo. Disseram-nos que Puno é muito frio e sempre chove, mas estávamos confiantes.
O dia amanheceu ensolarado então não nos agasalhamos muito para não passar calor, engano nosso, o frio era de rachar. Tivemos que parar várias vezes para trocar de roupa. Quanto mais subíamos, mas o frio apertava. Só melhorou quando coloquei a roupa de chuva, assim me senti mais agasalhada. Está sendo a parte mais difícil da viagem. Ainda acho tudo muito estranho. A gente roda um tempo sem ver nada interessante e de repente aparece em nossa frente uma imagem magnífica do lago Titicaca. Infelizmente não pude filmar este trecho sobre a moto, pois o frio não permitia. Chegando a Puno achamos facilmente um hotel para dormir e logo em seguida fomos visitar as ilhas flutuantes. A espera foi só de uma hora e meia, mas tudo bem, aproveitei para tirar um cochilo no barco e começar a acertar meu fuso horário. No Peru a diferença é de três horas em relação ao Brasil, isso também por causa do horário de verão. Valeu a pena o frio que passamos, é um passeio impressionante, interessante e diferente de tudo que já vi. Pena que já tínhamos arrumado onde dormir, porque na ilha tem uma espécie de pousada, que é uma tenda hostel, que eles montaram para quem quiser pernoitar por apenas 15 soles, a mais em conta que a gente tinha encontrado pelo caminho.
Ainda não tinha sentido os efeitos da altitude, mas no final da noite tive uma dor de cabeça insuportável e deixei para escrever meu texto pela manhã e assim vou poder relatar o ocorrido durante a noite que não foi nada fácil.
Senti muito medo de não conseguir chegar até o final da viagem, pois a dor era tanta que a única coisa que eu pensava era sair daqui e ir embora pra casa. Me perguntava o tempo todo o que eu estou fazendo neste final de mundo? Tive que tomar o chá de folha de coca, urgh!!! Tudo bem que não tem gosto de nada, mas a impressão é muito ruim, depois o Zé Carlos queria que eu mastigasse a folha, como ele tinha feito pela tarde, aí eu me recusei, se eu tivesse que melhorar seria só com o chá. Se isso voltar a acontecer, posso até pensar em mascar a folha de coca, porque os sintomas são muito desconfortáveis. Vou seguir a dica de uma amiga minha, Jansi, comprar as balinhas de folha de coca, deve ser um pouco melhor.
Vamos ver o que nos espera pela frente, subiremos até 5.500m.
Dia 26/12/08 – 9 º dia – Puno / Cusco
… e continua chovendo. Não podemos reclamar, pois sabíamos que era época de chuva aqui no Peru, o fato é que só podemos tirar férias nesta época, então não tínhamos muita escolha. Vocês viram o que o policial peruano fez? É deprimente, ele já chegou com esta intenção, mas não tive dúvida, simulei que não estava muito bem por causa da altitude e do frio e quando vi que ele se preocupou, peguei-o no pulo. Queria por que queria a luva do Zé Carlos, chegou até a vesti-la e disse que combinaria com a moto que ele tinha. Só que aquela luva era a minha e de forma alguma a daria para ele. Como ele pediu um champanhe para comemorar o ano novo com o amigo dele e disse que 10 soles serviria, não tive dúvida, contei as moedas que eu tinha no bolso e as entreguei. Filho da mãe se vendeu por R$ 8,00. Considerei novamente um pedágio peruano só para não passar raiva. Viajar às vezes cansa, ser turista não é fácil, sempre tem alguém que quer passar a perna na gente, por isso tudo tem que ser muito bem explicado e se possível repetir várias vezes a mesma coisa para não ter engano. Sobre o estresse da parte da manhã (a moto não funcionar) nem preciso falar né? Se o Zé Carlos ficou daquele jeito imagina eu, e olha que eu já tinha passado por uma “broma” (brincadeira) a alguns dias atrás.
Chegamos em Cusco com muita chuva e para achar a agência de turismo e o hotel foi um parto. As ruas do centro turístico são muito estreitas, de paralelepípedo e fica um sabão quando chove, além do mais a gente não sabia se podia subir com a moto por estas vielas. Encontramos o Hostel e pra piorar descobrimos que não tinha estacionamento, enfim, mais uma vez ela vai dormir na recepção, e precisam ver como as pessoas ficam curiosas para ver a moto. Acho que vou pedir um cachê artístico pra danadinha, ela merece!
Agência de turismo Dos Manos
Procurar por Vanise.
Dia 27/12/08 – 10 º dia – Cusco / Vale Sagrado
…sem chuva. Acordamos e o “Deus Inti” (Sol) queria dar o ar da graça. Que sorte a nossa, não? Hoje visitamos o Vale Sagrado (Pisaq, Ollantaytambo e Chinchero) esses são alguns dos sítios arqueológicos. Existem outros que também podem ser visitados, mas dá para ser no mesmo dia. Quando se compra o boleto turístico que custa 130,00 Soles por pessoa, aproximadamente, US$ 44,00 pode-se visitar por até 10 dias dezesseis pontos turísticos. Como não iríamos ficar por muitos dias pagamos somente os locais que iríamos visitar. Não dá para relatar todo o aprendizado, só tenho a dizer que a cultura Inca é magnífica e nos deixa encantados. Os locais estão bem preparados para receber turistas, a nossa guia Ilda deu uma aula de conhecimento Inca. Vale muito à pena visitar estes locais, a única coisa que não gostei muito foi o excesso de visitantes, isto acaba tirando um pouco a magia do lugar. Aprendemos muitas palavras usadas no idioma Quechua, mas pra falar a verdade já esqueci quase todas. É muita informação em tão pouco tempo.
Tá vendo esse cachorrinho na foto? Então, este é o Inca Dog. Uma graça, não?Dá pra se divertir bastante e se cansar também. Tem que estar um pouco preparado fisicamente, pois os caminhos são irregulares, muita subida e sem contar com a dificuldade na altitude. Ficaria horas escrevendo sobre o local e as sensações que eles causam e como mexe com nossa espiritualidade.
Amanhã vem o objetivo de nossa Expedição “Machu Picchu”. Pensando bem, a viagem toda foi um grande aprendizado, amadurecemos bastante e passamos por diversas experiências. Não dá pra dizer que este é o nosso único objetivo e sim um deles.
Dia 28/12/08 – 11 º dia – Cusco / Machu Picchu
Neste momento não gostaria de dizer nada sobre Machu Picchu. Preciso de mais tempo para explicar exatamente o que senti.
Enquanto isso tirem suas conclusões vendo as fotos e mais pra frente, quem sabe poderei dizer algo.
Pelo que estava observando, existe um passeio que sai às 6h30min por um portão dentro do Sítio Arqueológico de Machu Picchu para subida a Montanha Waynapicchu. É uma trilha, onde tem um Guia experiente que leva no máximo 200 pessoas. Este passeio deve ser impressionante, pois quando se entra em Machu Picchu deve ter bem menos visitantes, aí o local deve mostrar o seu lado místico. Todo o comércio ao redor do parque é extremamente caro, o ideal é pegar o ônibus e ir até Águas Calientes para almoçar.
Começa a nossa volta, esperamos passar por lugares diferentes. No Peru eu acho meio difícil, porque é melhor dormir nas grandes cidades. Provavelmente na Argentina será possível. Espero que continuem nos acompanhando.
Até breve.
Dia 29/12/08 – 12º dia – Cusco / Arequipa
Depois de alguns dias parados voltamos à estrada. Já estava com saudades. É muito bom ficar na garupa observando a paisagem. São nestes momentos que eu paro pra pensar, ter novas ideias e até resolver alguns problemas.
Saímos de Cusco e resolvemos aceitar a dica do nosso amigo Cesar, visitar antes de ir embora mais um sítio arqueológico, Saqsayhuaman. O lugar é bem bonito, só que estávamos com pressa e não pegamos um guia pra nos explicar, falha nossa, pois as ruínas são lindas, mas sem explicação fica faltando alguma coisa. O bom foi que fizemos boas fotos, porque dali a vista da cidade de Cusco é bem interessante. Aliás, a cidade histórica de Cusco é uma graça. Pelas fotos dá para perceber. Só que nada de salto alto por aqui, as ruas não permitem, viu meninas!
Durante a viagem a paisagem estava impressionante, o sol batendo no capim dourado das montanhas, fazia com que o visual ficasse encantador. Mas como vocês sabem que tudo que é bom dura pouco, de repente começou um frio arrepiante, logo tive que pedir para parar e colocar todas as roupas que eu tinha. Fiquei parecendo um astronauta com toda aquela roupa, mas quando as crianças olham me acham parecida com um ET, sabe como é né, criança não sabe disfarçar, então mostro a língua pra elas.
Hoje foi o segundo dia pior da viagem pra mim, aconteceram tantas coisas… Primeiro o frio era insuportável, chegava a doer os ossos. Imagina a 5.000m de altitude e ainda com chuva. Era tão insuportável que eu gritava e cantava para esquecer o que eu estava sentindo. Teve uma hora que as minhas pernas congelaram na posição que estava que quando eu as soltei, não consegui voltar mais para posição normal. E para abastecer? Tinha que descer da moto, é claro. Imagina a cena, parecia uma velha de 90 anos. Se não bastasse isso, uma roda de um ônibus se soltou, a nossa sorte é que ela correu pro lado e passou bem longe da gente. Tá pensando que foi só isso, tem mais, pra dificultar mais um pouco, sentindo aquele frio eu ainda estava preocupada com o combustível que estava no final. Tivemos que parar e comprar em uma casa na beira da estrada. Chegando em Arequipa, a única coisa que eu queria era um banho quente e nada mais. Voltamos para o mesmo hotel que tínhamos hospedado, assim era mais fácil e mais rápido. Depois do banho… o que era mesmo que eu estava sentindo?
Dia 30/12/08 – 13º dia – Arequipa / Iquique
Um dia muito frio o outro quente. Atravessamos a região de deserto do Peru, aliás, ainda não entendi o Peru. Onde não tem nada, de repente tem uma região com muito verde num vale entre duas montanhas de pura terra e por outro lado esta região que atravessamos não tem absolutamente nada, a não ser na região do Pisco.
Passamos por dois momentos difíceis, um que não tínhamos dinheiro e tinha bastante postos de gasolina, mas não aceitava cartão (isso no Peru). O outro é que tínhamos dinheiro, mas não tinha posto (no Chile). Os galões extras nos salvaram novamente. Incrível não ter nenhum posto entre Arica e Iquique. Pra piorar chegamos à noite e para procurar hotel foi um estresse, da minha parte é claro, porque por incrível que pareça quem estava tranquilo era o Zé desta vez. Depois de uma hora procurando encontramos um no centro da cidade. As senhoras que nos atenderam foram muito simpáticas e então resolvemos ficar. Indicaram o calçadão do centro. Pedimos umas Salsipapas e como ninguém é de ferro, abrimos uma exceção, enchemos a cara de pisco sour mango. Adivinha! Não conseguimos escrever e nem montar a página. Resolvemos deixar para o dia seguinte.
Sobre Machu Picchu, ainda não posso lhes dizer nada, continuo pensando. Tenham calma. Acho que chegarei a uma conclusão.
BOM AÑO DE 2009!
Dia 31/12/08 – 14º dia – Iquique / Antofagasta
Garupa – By JC
Oi gente,
Adorei o trecho de hoje, principalmente as duas horas que tirei pra dar uma dormidinha. Agora já são quase 23h e ainda não consegui encontrar acetona pra fazer minhas unhas, estou ficando uma fúria, onde já se viu passar o réveillon com as unhas nesse estado.
Ah, outra tragédia, deixei cair minha luva hoje .
Vamos comemorar a passagem do ano com nossos ermanos chilenos (rsrsrsrs)
Garupa
Acredita que o JC queria fazer o meu texto hoje?
E ainda disse que me deixaria aqui se eu não o publicasse.
Fica assim então, não vamos contrariar para não perder a carona.
Agora sou euzinha mesmo.
Hoje foi um dia muito tranquilo, trecho curto, a única coisa que incomodou foram as paradinhas para o Sr. José Carlos fazer xixi. Até nisso os homens levam vantagem. Quero publicar uma foto deste ato, mas ele não deixa. Por que será? Só os homens lêem estes relatos e vêem as fotos mesmo, não tem problema.
Sem brincadeiras, agora é sério. Os Chilenos são pessoas maravilhosas, me sinto muito segura neste País. Hoje é dia de Ano Novo, sei que estamos longe de nossos familiares e amigos e por estar longe é que sabemos o quanto são importantes pra nós.
Antofagasta é aquela cidade que tem a mão do deserto, mas não vamos conhecer, pois fica no caminho para Santiago e não iremos passar por lá porque custaria mais dois dias de viagem e nós não temos este tempo.
Feliz Ano Novo.
Ah! Quanto a passar o ano com as unhas feias, isso é verdade, ele não estava brincando não.
Dia 01/01/09 – 15º / 16º dia – Antofagasta / Jujuy
Sabe aqueles dias em que se correr o bicho pega e se ficar o bicho come? Foi o dia primeiro de janeiro. Saímos de Antofagasta às 11hs, o que não foi uma boa escolha. Pegamos muito frio para chegar em San Pedro, e eis que de repente acontece uma coisa muito chata, o GPS se espatifou na pista. Quase chorei de tristeza, mas o JC é super tranquilo pra estas coisas até fez a seguinte piada “agora além de ver satélites ele vê estrelas”. Em San Pedro o calor estava insuportável, mas mesmo assim andamos pelas ruazinhas pra procurar um cyber café e comprar algumas coisas. Foi aí que percebemos que estava muito tarde, mas mesmo assim resolvemos seguir em frente. Tudo muito lindo e maravilhoso, quando de repente nos vimos fugindo de uma enorme chuva, esta não nos alcançou. Mais para frente vi uma cena maravilhosa, estávamos nas nuvens. Parada para sessão de fotos e filmagens, mas não imaginava o que vinha pela frente, só neblina. Não vou ser tão otimista quanto o Zé Carlos, na minha opinião não dava para ver um palmo na frente. Rezei 355 ”Pai nosso” e sei lá quantas “Ave Maria”. Não dava para voltar e a única opção era seguir em frente. Lembra: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come, então, nossa única saída era tentar fugir daquela situação e dormir em Jujuy. Vencida esta etapa pensei que não teríamos mais problemas, engano, se não bastasse tudo o que já havíamos passado, veio à chuva. Me arrependo de não ter parado em Pomanarca. Até me pareceu uma cidade simpática, mas nosso objetivo era Jujuy para no dia seguinte irmos para Cafayate. Chegamos ao nosso destino encharcados, não sei o Zé, mas o meu corpo inteiro estava congelado e todo dolorido. Pra mim foi o 3º dia pior da viagem e olha que tivemos muita sorte, lembra de Machu Picchu? Começou com chuva e depois foi só alegria. De cara encontramos um hostel e não podíamos ter muito luxo, era o que tínhamos. Banho quente e depois de um único pastel em San Pedro, qualquer cristão merece comer. Só tinha um detalhe, não tínhamos moeda argentina e para piorar, aquela cidade que se diz turística não aceitava cartão em lugar nenhum, aliás, nos que estavam abertos, pois por ser dia primeiro nada funcionava. Voltamos decepcionados e mortos de fome para La Habitacion. Vamos dormir, fazer o que? Mas de repente o Zé aparece com dois pães murchos e um copo de gelo. Comei a comer o pão que o diabo amassou, enquanto vocês aí comiam o resto da ceia, aposto. Ah, o copo de gelo era para o pisco sour mango, que foi o nosso drink para esquecer parte do que tínhamos passado neste dia.
Agora já estou preparada para enfrentar 2009.
Não sou muito boa com as palavras, mas vou tentar.
Viajar de moto a2 é:
Primeiro, tudo de bom;
Aumentar a cumplicidade do casal;
Ficar mais próximo, aliás, muito próximos mesmo;
Dividir experiências únicas;
Saber que pode contar e confiar no outro;
Melhorar a relação;
Ter histórias pra contar;
Fazer amigos;
Na realidade são muitas coisas, mas o mais importante é poder estar com quem a gente ama.
Agora chega, porque tenho que comemorar o aniversário do meu piloto predileto.
Sobre Machu Picchu, estou começando a entender…
Ih, acho que hoje eu exagerei!
Dia 03/01/09
Hoje daríamos início ao trecho mais monótono da viajem, Salta a Corrientes e exatamente o local onde tivemos que bonificar um policial argentino. Já estava até me preparando para situação. Como é muito chata esta parte da viagem fui testando minhas habilidades fotográficas para ver se pegava um passarinho bem a nossa frente. Desta vez não teve nenhum óbito e eu conseguir fazer a foto. Além de ser muito perigoso por causa dos animais que cruzam a pista, é também muito quente o que dá um pouco de sono, mas depois de passar tanto frio nos dias anteriores, não podia reclamar. Encontramos pelo caminho muitas motos indo em direção ao Atacama e até ficamos uma horinha parado no posto contando o que tínhamos passado e dando algumas dicas.
Uma coisa que observei nesta região é que o céu é todo organizadinho, a impressão que dá é que elas foram desenhadas e parece que são de algodão. Muito lindo de se observar, na correria do dia a dia às vezes não paramos para dar atenção a estes detalhes. A parada em Salta para um dia de descanso e comemoração valeu muito a pena, assim conhecemos melhor a cidade e nos preparamos para um dia longo de viagem.
Dia 04/01/09 – 18º dia – Corrientes / Barracão
Hoje seria um daqueles dias normais, mesmo caminho de retorno e nada mais. As fotos já começam a ficar repetitivas e sem muita criatividade. Levantamos tarde e passamos no posto para abastecer, as garrafinhas de reserva foram descartadas mesmo contra minha vontade, afinal já tivemos uma experiência o ano passado eu preferia mantê-las até o final. No caminho passamos por um posto e como tinha acabado a energia não era possível abastecer. Chega a ser cômico, uma hora é não ter Pesos, outra o posto não aceita cartão ou então o posto não tem combustível. Arriscamos seguindo em frente e pra nossa surpresa não deu certo. Pintou o segundo estresse da viagem, até que para 18 dias foi pouco. Fiquei P… da vida e ainda tive que ouvir “Ta nervosa? Tira a calça e pisa em cima…acredita? Além de estar naquela situação tive que ouvir isso. Contei até mil e engoli seco, mas tudo bem, não tinha alternativa, tentamos pedir carona e não tivemos sucesso. A nossa opção era um fica o outro vai. Faltavam 7Km para chegar ao posto, resolvemos que eu ficaria e o JC iria atrás do combustível.
Não tinha uma árvore para eu ficar embaixo e o sol estava de lascar, então pensei, ao invés de tirar as calças resolvi arregaçar as mangas, comecei a andar em sentido a uma casa e perguntar se tinha um litro de gasolina para me arrumar. Uma senhora muito simpática entendeu minha situação e resolveu trazer um líquido em um galão pra mim. Perguntei o que era, mas ela não soube dizer. Cheirei o produto com tanto entusiasmo que fiquei tonta. Disse que queria aquele produto só que tinha um probleminha, eu não tinha um centavo para paga-la e na realidade não tinha mesmo porque todo o dinheiro tinha ficado com o JC. Ela muito gentil me deu. Neste meio tempo, passava um monte de motociclistas acenando, mas ninguém parava. Fiquei com muita raiva e comecei a achar que ninguém iria me ajudar, até que de repente passaram por mim mais cinco motociclistas indo em sentido Corrientes, pensei, não vão parar também. Engano meu, pra minha surpresa eles voltaram e me perguntaram se eu precisava de ajuda. Fiquei até emocionada. Perguntas pra lá, perguntas pra cá, eles tinham combustível para me dar, dar mesmo, pois eu não tinha dinheiro para pagá-los. Fotos para registrar o momento, não poderia deixar de fazê-las. Espero que eles me enviem por e-mail os nomes para eu possa agradecer de novo. Os batizei de “Anjos da pane seca”. Queriam por que queriam levar a moto até o posto, mas eu não quis atrapalhar mais a viagem deles e resolvi que eu mesma levaria. Estava com medo, mas aquela era a hora. Eles concordaram e disseram que só partiriam depois que eu saísse de lá. Aceitei e logo em seguida saí.
Estava super tensa, afinal esta moto é muito grande e pesada pra mim. No final deu tudo certo, segui a orientação deles e cheguei até o retorno. Tive que parar a moto e na hora de cruzar a autopista ela morreu e tombou um pouco para o lado, pensei, tô ferrada. Segurei e consegui sair de lá. Faltava mais 1km para chegar à cidade de Ituzaingó. Fui com fé e quando cheguei no posto o JC tinha acabado de chegar. Poupei-o de andar 7km de volta. Acho que ele não acreditou quando eu cheguei lá. Sorte a nossa assim a viagem não ficaria atrasada. Antes eu estava com raiva, agora até agradeci por ele ter me dado oportunidade de passar por esta experiência. Só tem um probleminha, agora eu tenho esta história pra contar e uma dor nas costas pela tensão e pelo esforço de segurar a moto quando ela tombou.
Dormimos em Barracão, já no Brasil e como estava muito tarde não fomos para Pato Branco que era o nosso destino. Aproveitamos para jantar e eu não pude deixar de pedir feijão, afinal já são quase 20 dias sem comer esta maravilha.
Dia 05/01/09 – 19º dia – Barracão / Curitiba
É incrível como na ida a gente não dá atenção a um monte de coisas. Basta ver paisagens extremamente diferentes para na volta dar mais atenção a qualquer detalhe. Todas as cores ficam mais vivas, principalmente o verde. A gente passa a enxergar diversos tons, o que antes não fazia muita diferença. A quantidade de frutas que existe em nosso país e a fartura também foram coisas que eu percebi de imediato, já pelo caminho é possível certificar-se disso. É muito bom voltar pra casa com um monte de experiências novas e bons amigos, inclusive vamos ter a honra de reencontrar os que conhecemos pelo caminho, fomos convidados para um jantar na casa deles. Isso é muito bom, já não via a hora de um programa mais caseiro, porque 20 dias comendo em restaurante ou pelas estradas faz a gente sentir muita falta disso.
Dia 06/01/09 – 20º dia – Curitiba / São Paulo
É isso aí!
As fotos acima dirão tudo!