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Expedição Estrada Real – A Estrada Real, começando na cidade de Diamantina (MG) e terminando em Paraty (RJ) pelo caminho antigo, foi o primeiro roteiro em formato de expedição que planejamos fazer de moto, e só agora depois de mais de trinta viagens pelo Brasil e América do Sul conseguimos realizar mais esse sonho


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VERSÃO PILOTO

01º DIA – 03 /09/09 – SÃO PAULO – SP A DIAMANTINA – MG / 882km

A Estrada Real, começando na cidade de Diamantina (MG) e terminando em Paraty (RJ) pelo caminho antigo, foi o primeiro roteiro em formato de expedição que planejamos fazer de moto, e só agora depois de mais de trinta viagens pelo Brasil e América do Sul conseguimos realizar mais esse sonho, sem dúvida valeu a pena esperar. Inicialmente a nossa ideia era percorrer todo o caminho de uma só vez, mas como tínhamos apenas cinco dias, e não queríamos mais adiar, optamos por dividir em duas fases, a primeira o Caminho dos Diamantes e na segunda o Caminho do Ouro. Nessa primeira fase percorremos o Caminho dos Diamantes, são 380 km por estradas de terra entre Diamantina e Ouro Preto.
1º Dia – Deslocamento – 882 km. Como moramos em São Paulo, e para chegar até a BR 381, temos que atravessar a cidade, resolvemos sair bem cedo para evitar todo o estresse do trânsito paulistano, principalmente em vésperas de feriado.
Às 7:30h já estávamos na estrada prontos para encarar os 882 km até Diamantina, pela BR 381 e BR 040 a primeira uma estrada bastante cansativa pela grande quantidade de curvas e de caminhões, mas com um bom piso em todo o trajeto, e agora pedagiada para nós motociclistas também. A BR 040 estava em obras quase em toda a extensão, o que acabou atrasando bastante a viagem. Chegamos em Diamantina às 18h e logo de cara tivemos uma grata surpresa, o centro histórico lembra bastante a cidade de Cuzco no Peru, ruazinhas apertadas, piso de pedra, casarões coloniais, lojinhas de souvenirs, suntuosas igrejas, barzinhos com mesas na rua, que por sinal eu adoro, e um astral muito bom. Como não conseguimos um camping, e estávamos cansados da viagem, resolvemos ficar numa pousada e curtir um pouco a noite da cidade para encarar as estradas de terra no dia seguinte.

02º DIA – 04 /09/09 – DIAMANTINA (MG) A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO – 137 KM

Parece pouco né? Mas rodar 137 km por estradas de terra não é nada fácil, ainda mais em terras mineiras, que só tem montanhas e principalmente se você estiver com uma Big Trail com três malas e garupa. Sem dúvida nenhuma nossa experiência em off-road foi fundamental para conseguir transpor esse trecho, mesmo assim não saímos ilesos, depois de vários “quase” acabamos caindo num dos areões por onde passamos. Felizmente nada grave, mas vale lembrar da importância de adequar a velocidade com o tipo de terreno, quando se viaja sozinho. Pilotando por trilhas, com muitas subidas e descidas fortes, depressões, areões que apareciam de repente, uma queda era muito provável de acontecer, o importante era não se machucar.
Mas também tinham situações engraçadas, como o botequinho a beira da estrada em Bom Jesus do Amparo. Na placa no sentido para quem ia dizia “Bar Zé Braga – Primeiro Gole” e pra quem voltava “Bar Zé Braga – Último Gole” sem dúvida o Zé Braga além de dono de boteco é um marqueteiro nato.

03º DIA – 05 /09/09 – CONCEIÇÃO DO MATO A DENTRO (MG) A BARÃO DE COCAIS (MG) / 147 KM

Nosso segundo dia pelas trilhas mineiras foi bem mais fácil de pilotar do que ontem, com bem menos morros, porém nem tão bonito, acho que tudo tem seu preço.
Depois de passarmos por muitos pequenos distritos, a mais ou menos dez quilômetros um do outro, cada um com suas igrejinhas, botequinhos, crianças brincando pelas ruas, cachorros sujos de terra, chegamos à cidade de Cocais, onde pretendíamos acampar.

Mas devido à área de camping não ser das melhores mudamos de ideia e fomos à caça de uma pousada, a pesquisa não seria muito difícil, já que só existem duas pousadas na cidade, mas “coincidentemente” o preço da diária de casal era cento e sessenta reais em qualquer uma das pousadas. Azar dos donos das pousadas dormimos doze quilômetros adiante, em Barão de Cocais.
Até aqui a sinalização da Estrada Real é perfeita, em toda bifurcação existe um marco orientando o caminho a seguir.

04º DIA – 06 /09/09 – BARÃO DE COCAIS (MG) A OURO PRETO(MG) / 114 KM

De Barão de Cocais em diante a sinalização fica bastante confusa, os marcos que orientam a trilha a seguir, também indicam alguns locais importantes a serem visitados, como o Santuário do Caraça, que fica dezenove quilômetros fora da trilha por estrada de asfalto, mas vale a pena conhecer, tanto pela sua história quanto pelo visual, pena que nesse dia estava nublado.

Depois de intercalar alguns trechos por estradas de terra e outros por asfalto, ora seguindo os marcos, ora perguntando, chegamos em Mariana, uma das cidades mais bonitas e simpáticas até aqui, e mais cheia de turistas também, de todas as partes do mundo, inclusive alguns chineses também, que nem sempre prezam pela educação e cordialidade. Mas melhor deixar pra lá.

Depois de almoçar muito bem, seguimos rumo a Ouro Preto, agora sob chuva, e graças a Deus só agora, porque aqueles morros com lama…. assim que chegamos a Ouro Preto começamos a descer uma rua, que de repente se transformou numa enorme descida de paralelepípedos escorregadios que me fizeram sentir saudades dos morros de terra.
Armamos nossa barraca no Camping Clube do Brasil que tem uma ótima estrutura, todo gramado, com banheiros limpos e até uma lanchonete.

Depois de umas voltas pelo centro histórico, jantar uma pizza acompanhada por umas caipirinhas de cachaça só nos restou dormir na barraca ao som da chuva.

05º DIA – 07 /09/09 – OURO PRETO (MG)  A SÃO PAULO (SP) / 849KM

Depois de uma noite de muita chuva, a barraca passou no teste, não entrou uma gota d’água. Acordamos cedo desmontamos acampamento e partimos de volta a São Paulo, para nossa sorte, sem chuva. Chegando perto de Bragança Paulista a Fernão dias parou e para evitar o estresse de ir pelo corredor até SP, resolvemos fazer um desvio até a Anhanguera, mesmo tendo que rodar bem mais, o importante é chegar bem. E chegamos, agora já começamos a sonhar com a segunda fase da Estrada Real, de Ouro Preto até Paraty.


VERSÃO GARUPA

01º DIA – 03 /09/09 – SÃO PAULO – SP A DIAMANTINA – MG / 882km
Finalmente chegou o grande dia de realizar um sonho antigo, conhecer a Estrada Real. Apesar de ter muitas curiosidades sobre o local, resolvi não pesquisar e sim sentir todas as emoções em cada quilômetro rodado.

Queria ver com meus próprios olhos os caminhos percorridos pelas pessoas que levaram toda a riqueza de nosso País, mas de uma coisa tive certeza, não levaram o melhor dele, a paisagem magnífica e a diversidade cultural que por ali ainda reina.
Apesar de ser uma viagem longa e com muitas opções de turismo, sendo eles, cultural, artístico, natural ou até mesmo para o simples descanso, nosso objetivo era fazer todo ele por terra, passando por diversos distritos e conhecer cada pequena comunidade.
Sabíamos que cada uma delas tinha sua beleza natural, com diversas trilhas e cachoeiras e que não seria possível, pelo menos desta vez, fazer estes passeios, mas nos deixaria com uma vontade danada de voltar outra vez.

Depois de onze horas sobre a moto, afinal foram quase 900 km, chegamos em Diamantina. Durante todo o percurso passamos por locais com paisagens maravilhosas, como a região de Joanópolis, Camanducaia. Avistávamos colinas verdinhas com formatos diversos. A impressão que eu tinha é que era uma pintura, destas que crianças pintam com lápis de cor no primário.
O mais interessante é que uns 200 km antes de chegar em Diamantina a paisagem muda completamente, lembra muito o serrado na região do nordeste. As colinas ficam para trás com seu verde exuberante e se transformam em morros e montanhas todo de pedra e a vegetação fica bem seca e rasteira. Esta diversidade natural de nosso país cada vez mais me encanta. Este é um dos motivos que mais me agrada quando viajo e me faz querer viajar cada vez mais.

Fiquei muito surpresa quando vi Diamantina, não imaginava que era uma cidade tão bonita e simpática. A vantagem de viajar e não ter informações sobre o local é que passamos a vê-lo sem expectativas e tudo parece mais bonito. É verdade que às vezes pode ocorrer surpresas ruins, mas temos que estar preparados. Andando pela cidade vi que vale a pena passar pelo menos três dias por ali. Diamantina tem diversas opções de passeios para todas as idades e conta com um receptivo chamado Caminhos Reais e que dispõe de alguns roteiros, como por exemplo: City Tour, Trilha do Caminho dos Escravos, visita a parques, visita ao garimpo e até alguns roteiros radicais. Os preços variam entre R$ 30,00 a R$ 250,00. Não deixe de conhecer a Casa de Chica da Silva e nem de comer a típica comida mineira que é uma tentação.

A ideia inicial do nosso projeto era acampar, pra ficar um pouco mais emocionante, mas resolvemos nos hospedar em uma pousada porque chegamos à noitinha e ficaria complicado localizar o camping e até mesmo montar acampamento. Esta noite a barraca não seria usada, então continuaria a sina de encontrar um bom local para dormir, bom, bonito e barato. Desta vez usamos um recurso para não estressar, enquanto o Zé tomava uma cervejinha bem gelada eu sairia em busca do local. Nada mais justo, pois ele já tinha pilotado todo o percurso e eu sou a mais exigente mesmo, então caberia a mim tal tarefa. Por sorte de cara achei uma pousada bem legal. Com preço e serviço justo. A cidade dispõe de diversos hotéis, que variam de R$ 80,00 a R$ 300,00. Tem que procurar bem, porque tem algumas que não tem bom senso.
O bom do interior é que as pessoas são super prestativas, quando percebem que você precisa de alguma coisa, logo se oferecem para ajudar. O Sr. Salvador, um comerciante do local, nos deu muitas dicas e ficou proseando um “cadinho” com a gente. É por este e por outros motivos que eu sempre escolho as cidades pequenas.

02º DIA – 04 /09/09 – DIAMANTINA (MG) A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO – 137 KM
Hoje realmente começa nosso roteiro. Iniciaríamos em Diamantina (MG) e só pararíamos em Paraty (RJ). Deixamos para sair mais tarde, pois queríamos ver como era Diamantina a luz do dia e ficamos mais impressionados ainda. Com muito pesar tínhamos que partir e felizmente era para seguir viagem. Haveria muitas surpresas pela frente, como de fato houve. Localizamos o primeiro marco de nossa viagem. A partir daquele momento muitos viriam pelo caminho. Trata-se de um pilar feito de concreto que demarca todo o trajeto da Estrada Real. Pegamos a estrada e já senti aquele friozinho no estômago. Muita felicidade além de tudo. Me sinto muito livre quando ando em estrada de terra. A impressão que eu tenho é que estou mais próxima da natureza ainda. A velocidade diminui, mas o coração acelera. É um prazer enorme, até difícil de explicar, deve ter alguma ligação com os meus antepassados. Começamos bem, mas não demorou muito para percebermos que não seria nada fácil.

Como não chovia há algum tempo a estrada estava com muito pó, e o pó era tanto que parecia que estávamos andando na areia, sem contar com a quantidade enorme de pedras. A velocidade teve que ser realmente diminuída, pois estávamos em apenas uma moto e qualquer acidente teríamos que nos virar sozinhos. Nada que fosse impossível, mas atrapalharia muito a viagem. Como somos do lema “devagar e sempre” resolvemos dobrar a atenção. Já estava me preparando mesmo assim para alguma eventualidade, sabe como é né, um tombo. Pensei nos baús (cases) que poderiam me proteger. A única coisa que não poderia fazer era me proteger com os braços ou tentar evitar que isso acontecesse. Pois bem, seguimos viagem e a cada quilômetro a coisa ficava mais difícil.

Percebi que para fazer este roteiro tem que ter muita noção de como pilotar em estrada de terra e no caso de garupa tem que não ter medo de andar neste tipo de terreno, e olha lá, mesmo assim dá um medinho, pois o tombo parece certo. Se fosse no areão, tudo bem, pior seria se fosse numa descida cheia de pedra. Não podia nem pensar, mas de tanto pensar deu uma sede. Pra nossa sorte encontramos o “Primeiro Gole”. Bem sacado o nome do boteco, de uma originalidade incrível. Pra quem ia era o primeiro e pra quem vinha era o último, gole, é claro. Era assim a placa que se apresentava logo em frente do bar. Digno de uma foto, não é?

Este dia, não sei por que cargas d água, tinha um movimento enorme de carro na estrada. Não aguentava mais comer tanta terra. Pensa que eles andam devagar? Portanto tem ter muito cuidado em estrada de terra, sem contar com os animais que cruzam a estrada. Passamos pelos distritos de Vau, São Gonçalo do Rio das Pedras, Milho Verde, Três Barras e finalmente no Serro, local onde mataríamos quem estava nos matando: a fome. Nada de exageros, pois ainda tinha chão pela frente.

O Serro é um lugar bem simpático, dos que passamos até ali, era o que tinha mais estrutura. Os meninos da Secretaria de Turismo queriam que pernoitássemos por lá para conhecer melhor a região, mas como ainda era cedo resolvemos seguir viagem. Seguimos por alguns kms e logo aconteceu o que imaginávamos, aquele tão esperado tombo. Até que demorou!

Preciso descrever, pois pra mim aconteceu tudo em câmera lenta e pro Zé Carlos foi tudo muito rápido. Quando a frente da moto saiu do alinhamento, pronto, Moto para um lado e piloto pro mesmo, é claro. Só que como a frente da moto torceu quem caiu primeiro foi o Zé. Vi o corpo dele se torcendo e a cabeça dentro do capacete batendo contra o chão. Sabe aquelas cenas de luta de Box quando o sujeito leva um soco em câmera lenta e a cabeça mexe dentro do capacete, foi assim mesmo. Como eu estava na garupa fui arremessada bem depois, então fechei os braços, protegi a máquina fotográfica, fiz como se fosse um tatu bola, rolei por cima do Zé Carlos e fiquei estendida no areão morrendo de rir. Não sei se foi por nervoso ou porque foi engraçado mesmo. Me diverti pra caramba, a parte ruim é que tive que fazer força pra ajudar a levantar a moto e em alguns trechos achei melhor descer e fazer a pé mesmo.

Resumindo chegamos em Conceição do Mato Dentro. Era tarde, procuramos um camping e nada feito. Como tinha um show na cidade, as pousadas estavam praticamente lotadas. E como nossa proposta era acampar, fomos até uma pousada que também tinha um camping, mas estava desativado e eles gentilmente nos cederam um espaço e um banheiro. Foi o melhor banho frio que tomei, podem acreditar, depois do perrengue de um dia inteiro foi o que salvou.

Agora não posso deixar de falar de um figuraça que conhecemos no bar Café com Rosas. Uma pessoa única, todo atrapalhado, mas de uma ingenuidade sem igual. Tudo ele errava, mas a simplicidade do sujeito só fazia agradar.
Toda hora ele vinha na mesa e dizia:
– Se precisar de alguma coisa é só chamar – Ohh Marquinhoooo!!!
Quando estiver passando por lá e tiverem a oportunidade de conhecê-lo, vai entender perfeitamente o que estou dizendo. O Marquinho é artesão durante o dia e a noite trabalha como atendente em um bar, ou melhor, o único atendente daquele bar, então já deu pra imaginar a confusão. Sabe que até tempo pra sentar-se à mesa e contar sua história de vida ele arrumou. Oh Marquinho, manda aí uma caipirinha.
Muita caipirinha para poder encarar a noite na barraca, também a R$ 4,00 cada, dava para tomar de balde. Foi um dia e uma noite incrível!

03º DIA – 05 /09/09 – CONCEIÇÃO DO MATO A DENTRO (MG) A BARÃO DE COCAIS (MG) / 147 KM
Logo pela manhã, toda quebrada da noite anterior, sabe como é né, de moto não é possível levar muita coisa. Será que vocês imaginaram que nós levamos colchonetes?
Nada disso, a barraca era a casa e a cama era um isolante térmico de 3mm de espessura e um saco de dormir. Pensa que tinha um gramado em baixo, nada disso, era chão duro mesmo. Oh vida, oh céus, ETA vidinha mais ou menos…Pelo visto esta parte da estrada estava melhor do que a do dia anterior. Mas já tínhamos a certeza que não seria possível fazer toda a Estrada Real desta vez. Então nossa expedição chamaria “Circuito do Diamante” de Diamantina até Ouro Preto e numa próxima vez, faríamos o “Circuito do Ouro”, de Ouro Preto a Paraty.

Pelas estradas surgem cachorros não sabemos de onde, cada um mais estranho que o outro, uma mistura de cruz credo com deus que me perdoe. Quando você menos espera eles surgem da terra, parece que estão plantados, observe e diga se não tenho razão.
Com a estrada melhor, o dia ensolarado, podíamos seguir viagem e chegar mais cedo em alguma cidadezinha ou vilarejo. Foi realmente o que aconteceu, passamos por Morro do Pilar, cidade do povo das pernas grossas, a cidade é praticamente uma ladeira, quando sobe parece que não tem mais fim. Imagina morar em um lugar assim?

Depois fomos para Itambé do Mato Dentro, Senhora do Carmo, Ipoema, Bom Jesus do Amparo e chegamos ao nosso destino final daquele dia, Cocais. Paramos logo ali no bar do Sr. Sérgio. A cidade é bem pequena e não conta com muitas hospedagens. Ficamos um tempinho conversando e de última hora resolvemos nos hospedar no Camping de uma Cachoeira.

Em Cocais você pode ver pinturas rupestres, uma das mais famosas, e também conhecer cachoeiras lindíssimas pela região. Posso estar enganada, mas tive a impressão que há um tipo de seleção de turistas nesta cidade. Não existe meio termo em relação à hospedagem. Criou-se um único padrão, onde para se hospedar em Cocais você tem que pagar pela diária a faixa de R$ 160,00. Há somente duas pousadas nesta cidade e um Camping que fica super afastado.

Aconteceu algo engraçado, quando chegamos à cachoeira para acampar, o rapaz que toma conta disse que só tinha banho frio e o banheiro poderia usar o da portaria. Até aí tudo bem, mas quando ele disse dos carrapatos, pensei bem, acho que não quero dividir minha cama com estes bichinhos asquerosos. Enfim, resolvemos voltar para cidade e ele nos sugeriu pedir autorização no posto policial para acampar num gramado que tinha logo em frente da delegacia. Quem sabe não seria uma experiência diferente. Passamos por lá para ver se era possível, mas eis que de repente percebemos que este gramadinho nada mais era do que uma igreja com um cemitério no fundo. Resolvemos que não queríamos ficar por ali mesmo. Nada de experiência diferente e como já estava de noite decidimos que iríamos para Barão de Cocais e passaríamos a noite por lá num hotel de beira de estrada como sugeriu um casal que se encontrava na mesma situação que a nossa.

Realmente este período não é muito bom para acampar por causa da seca. O IBAMA fica o tempo todo fiscalizando, para evitar as queimadas e os carrapatos adoram alimento fresquinho.

04º DIA – 06 /09/09 – BARÃO DE COCAIS (MG) A OURO PRETO(MG) / 114 KM
Saímos de Barão de Cocais bem cedo para poder aproveitar o dia. Mariana seria a nossa parada para o almoço. Já ouvi falar muito bem desta cidade e estava ansiosa por conhecê-la. Dali há duas opções de roteiro, na realidade em Cocais há uma bifurcação e você pode escolher quais as cidades que irá conhecer. Se tiver tempo acho interessante passar pelos dois, mas como não tínhamos, optamos por um deles e como tudo na vida, quando se escolhe um, perde-se o outro.
Depois do destino escolhido, era só seguir os marcos, isto é, se eles estivessem onde deveriam estar. Neste trecho da viagem comecei a ficar nervosa, pois percebi a falta de cuidado que as pessoas tinham em manter a sinalização em ordem. Isso desgasta um pouco porque acaba atrasando a viagem. Entramos em um Eucaliptal e ficamos rodando que nem bobos, ali faltou bom senso para pelo menos sinalizarem melhor. O lugar parecia meio sinistro, me lembrei do labirinto do Minotauro. Enfim conseguimos sair e passamos por Santa Bárbara e Catas Altas. Aqui aconteceu algo bem interessante, queria saber porque a cidade tinha este nome. Avistamos três senhores muito simpáticos numa prosa animadíssima, adivinha se não fui perguntar? Cada um me dava uma explicação, o pior é que eles queriam falar todos ao mesmo tempo e eu estava interessadíssima em ouvir todas as histórias. A mais convincente foi que naquela região, devido a facilidade de encontrar ouro, os portugueses diziam que as catas eram altas, portanto “Catas Altas”. Já um outro muito engraçadinho, nos disse que em uma festa religiosa escolheram um crioulo para representar um santo, e que este seria colocado em um altar e percorreriam toda a cidade com ele nos ombros. Mas o sujeito era muito alto e pesado e quando se movimentava acabava atrapalhando a caminhada dos que estavam carregando. Todo este movimento era para apanhar as saborosas goiabas que estavam nas árvores do trajeto da procissão. Então, para que o suposto santo não se movimentasse, os carregadores gritavam: “cata as altas”. Daí o nome da cidade. Impressionante a criatividade e o bom humor deste simpáticos senhores. Valeu muito o “cunversê”. Daí pra frente percebemos que os marcos estavam distribuídos por diversos pontos e já não era mais para serem seguidos como placas. Eles agora representavam a região da Estrada Real. Uma pena, pois achava muito mais interessante como era antes, demarcando os caminhos pela estrada de terra. Com a chegada da civilização vem o asfalto e tudo muda. Passamos por Santa Rita Durão, Camargos e enfim Mariana.

Só que antes do almoço fomos conhecer um lugar que faz parte da região da Estrada Real, o Santuário do Caraça, que é um colégio seminarista. É possível se hospedar lá caso queiram e o valor é a partir de R$ 160,00 com pensão completa. Achei meio sinistro já que lá também tem catacumbas. Mas a região é muito bonita, repleta de cachoeiras e trilhas.Devido a confusão da demarcação, atrasamos um pouco, pois era para chegarmos mais cedo e aproveitar bem Mariana. A cidade é super limpa e organizada e com diversos pontos turísticos para visitar. Hospedar ali chega a ser até 50% menos que em Ouro Preto de acordo com as informações de um guia. Não tem camping, caso estejam interessados.
Durante todo o trajeto, as igrejas eram brancas com detalhes azuis, já em Mariana tudo muda, este padrão já não é tão seguido. Pena que não podemos ficar muito tempo e seguimos para Ouro Preto que fica bem pertinho dali e com certeza tinha um Camping, aliás, este é o nosso objetivo e não poderíamos deixar de acampar neste dia e fechar com chave de ouro, ou melhor, com guarda chuva. Isso mesmo, todos os dias estavam lindos e radiantes, mas neste dia a chuva não perdoou, veio com tudo. Barraca montada, banho tomado e rezávamos para não molhar dentro da nossa hospedagem, senão teríamos que desmontar tudo e procurar local para pernoitar. Graças a Deus deu tudo certo, dormiríamos mais uma noite na barraca. Choveu a noite toda e nem “pinga ni mim”, aliás, pinga esta que tomamos no centrinho de Ouro Preto pra poder enfrentar a noite caso algo acontecesse.

Tenho pouco para falar desta cidade porque passamos pouco tempo nela e como estava tendo uma parada gay, achei o local com muito lixo espalhado pela rua, mas deve ser por causa do evento. A chuva nos atrapalhou também, pois é impossível andar de moto naquelas ruas de pedra quando estão molhadas.
Noite maravilhosa, a chuva até ajudou a dormir e melhor ainda foi acordar na manhã seguinte com os cantos dos pássaros e do Galo José. Foi muito bom!

05º DIA – 07 /09/09 – OURO PRETO (MG)  A SÃO PAULO (SP) / 849KM
Hora de voltar, parecia que o tempo ia ajudar como de fato ajudou. Ameaçou chover e de repente abre um imenso sol para tornar a viagem mais segura e agradável.
Valeram todos os momentos. Apesar da correria este era o nosso objetivo, conhecer a estrada de terra real ou se preferir a Estrada Real de terra.
Vencemos a primeira etapa com muito esforço e dedicação. Voltaremos com certeza para os locais que gostamos como Diamantina e Mariana, mas agora é se preparar para a segunda etapa “ Caminho do Ouro” – De Ouro Preto a Paraty no Rio de Janeiro.
Esta foi mais uma aventura que me ensinou muita coisa, e o melhor de tudo é poder dividir todas estas minhas sensações com vocês que também são apaixonados por viagens.

 
Quilômetros Rodados 2.129 km
Despesa Combustível R$ 500,00
Despesa Alimentos R$ 216,00 (acampando + pousada)
Despesa Hospedagem R$ 80,00
Referências http://www.estradareal.org.br/
www.pousadacapistrana.com.br

www.viladoimperador.com.br

Pousada Santa Inês – Conceição do Mato Dentro (MG)