O Deserto do Atacama, um dos lugares mais surpreendentes do planeta, foi o cenário da nossa mais nova aventura sobre rodas. Dessa vez, partimos rumo ao Chile com tudo completo: motorhome pronto, equipado e preparado para nos levar pelos caminhos mais incríveis da América do Sul.
A liberdade de viajar com a nossa casa sobre rodas transformou tudo. Sem a necessidade de buscar hotéis ou restaurantes, ganhamos tempo, praticidade e muito mais conforto. Em alguns dias estávamos em campings estruturados, em outros, dormindo sob um céu absurdamente estrelado em paisagens de tirar o fôlego.
Mais do que uma viagem, essa foi uma experiência de vida. Cada quilômetro rodado fortaleceu ainda mais o nosso jeito de explorar o mundo: no nosso tempo, do nosso jeito.
Texto Piloto
Essa não é a nossa primeira vez no Atacama. Já fomos outras vezes de moto — viagens que também estão relatadas aqui no Motoa2. Mas, dessa vez, nossa experiência foi de motorhome. Sem muito planejamento… ou melhor, sem planejamento nenhum. Resolvemos no dia 29 de dezembro e partimos no dia 30.
Como sempre, nossa partida foi da cidade de São Paulo e nossa primeira parada para pernoite foi em Guarapuava. Pela segunda vez, ficamos no estacionamento da Havan, e pela segunda vez fomos recebidos com a gentileza de sempre. Mais uma vez, obrigado, Havan, pela acolhida.
Mas como a vida não é feita só de flores, um sensor do ABS do carro começou a apresentar defeito. Achamos uma oficina em Marmeleiro, onde fomos muito bem atendidos pelo Dione e sua esposa, da Mecânica Diesel Werlang. Como não encontramos a peça na cidade, tivemos que ir até Foz do Iguaçu, onde havia uma concessionária que poderia nos atender — mas só no dia 2 de janeiro. Enquanto aguardávamos, ficamos descansando em um camping.
Com o problema resolvido, partimos de volta para a cidade de Barracão e entramos na Argentina por Bernardo de Irigoyen. Todas as vezes em que estivemos na Argentina, a situação econômica era diferente: ou o câmbio nos favorecia ou favorecia nossos hermanos. Dessa vez, não favorecia ninguém. A inflação estava muito alta por lá, e, para nós, tudo estava caro. Enquanto o diesel custava cerca de R$6 no Brasil, na Argentina estava o equivalente a R$9.
Seguimos viagem pela região do Chaco, passando por Pampa del Infierno — pelo nome já dá pra imaginar o calor que faz por lá. Além disso, as estradas estavam mal conservadas, com muitos buracos e defeitos no calçamento, o que começava a preocupar.
Em Salta, além do charme da cidade, encontramos um camping municipal excelente, com toda a infraestrutura necessária e uma piscina gigante de 250 x 60 metros. Valeu muito a pena ficar dois dias por lá.
De Salta seguimos para Jujuy e Purmamarca, já na região do Deserto do Atacama. Esse trecho até San Pedro é um dos mais bonitos, com estradas incríveis. As duas pequenas cidades citadas são imperdíveis.
San Pedro de Atacama é a porta de entrada para várias atrações do deserto: Vale da Lua, Geisers, lagunas, salares… tudo que não vemos por aqui no Brasil. A princípio, não queríamos ficar em camping, justamente para aproveitar as noites estreladas do deserto. Mas a cidade estava cheia de turistas e ficamos receosos de deixar o carro sozinho enquanto saíamos com a scooter. Conversamos com um casal de brasileiros que teve o carro arrombado e pertences roubados. Assim, acabamos optando por um camping — que, além da segurança, tinha uma piscina que nos fez sentir num verdadeiro oásis.
Como já conhecíamos muitas dessas atrações, refizemos alguns roteiros com nossa scooter, só para matar a saudade das paisagens monocromáticas e do pó interminável do Atacama. Um passeio que ainda não havíamos feito foi o astronômico, em que dá para ver, através de telescópios, várias estrelas, planetas e, claro, a Lua. É muito legal — embora tivesse sido ainda melhor se a Lua não estivesse tão clara naquela noite. Mas valeu a experiência.
Nosso próximo destino foi Antofagasta, no litoral do Pacífico, para tirar um pouco da poeira e decidir os rumos da viagem: subiríamos até o Peru ou desceríamos até Ushuaia?
Nem uma coisa, nem outra. Pela manhã, recebemos uma notícia muito triste: o falecimento de um grande amigo. Decidimos voltar ao Brasil para chegar a tempo da missa de sétimo dia.
Começamos o retorno pelo mesmo caminho da ida, que era mais curto. Mas o carro já começava a sentir os efeitos dos milhares de buracos enfrentados. A vibração aumentava cada vez mais. Paramos ainda no Chile para fazer balanceamento e alinhamento, mas na estrada ficou claro que não resolveu o problema. Paramos novamente, desta vez na Argentina, para refazer o serviço. O diagnóstico não foi dos melhores: um dos pneus dianteiros se deformou e só trocando mesmo. O problema? O preço de 1 pneu na Argentina era o mesmo de 4 no Brasil. A solução foi encontrar uma calibragem que amenizasse a vibração e reduzir o ritmo.
Achamos que os problemas estavam resolvidos… até que, chegando em San Tomé, na região de Corrientes, acendeu a luz do alternador. Alguns quilômetros depois, o carro apagou. Por sorte, conseguimos sair da estrada até o acostamento. Sem pânico: descemos a scooter e saí em busca de ajuda. Vinte quilômetros depois, encontrei um posto e um mecânico que nos socorreu. Levamos o carro para a oficina e, por volta das 22h, tudo estava resolvido.
Na hora de pagar, tememos tomar uma facada… mas, como sempre, demos sorte em conhecer mais um hermano que virou amigo. O preço foi super justo.
Depois de quase 10 mil km e alguns perrengues, chegamos de volta — como sempre. Nem todas as viagens saem como planejamos… imagina as que nem planejamos, então!
O mais importante é ter maturidade para enfrentar situações fora do roteiro, porque elas fazem parte da vida — gostemos ou não.
Vamos continuar sempre tentando fazer o melhor. Até a próxima!
Mais do que uma viagem, essa foi uma experiência de vida. Cada quilômetro rodado fortaleceu ainda mais o nosso jeito de explorar o mundo: no nosso tempo, do nosso jeito.