Salta e Jujuy – Visitamos alguns lugares surpreendentes. Veja bem, nem sempre surpreender é para melhor, tiveram lugares inóspitos, que nem imaginei que existia na Argentina. Uma paisagem que lembra mais o Chile, Bolívia e Peru, estou me referindo as províncias de Salta e Jujuy. Já havíamos passado por lá, mas o entorno não tinha feito parte dos nossos roteiros.
VERSÃO PILOTO
Nosso primeiro desejo, dentro desse roteiro, era conhecer as cataratas do lado argentino, já que conhecemos o lado brasileiro. Então, dormimos em Foz e no dia seguinte seguimos para Puerto Iguaçu, os trâmites nessa aduana é bem tranquilo, bem diferente de outras tantas que já enfrentamos.
O Parque Nacional Iguazú fica a 30 km de Foz e é bom lembrar que o pagamento tem que ser em Pesos.
Como o parque é bem grande o ideal é chegar cedo, a locomoção dentro do parque é feita por um trenzinho que leva até a entrada de cada passarela, depois é só caminhar e apreciar a quantidade absurda de água que desce pelas inúmeras quedas e os arcos íris que surgem um atrás do outro, vale muito a pena reservar um dia para curtir esse parque e para fechar com chave de ouro, um incrível e refrescante passeio de barco passando por baixo das quedas d’agua, pena que dura pouco.
Na sequencia da viagem começamos a atravessar o caliente Chaco, e para nossa sorte e azar ao mesmo tempo, estava chovendo. Sorte porque a chuva alivia o calor animal que faz nessa região e azar porque a chuva encobre os buracos da pista, e foi um deles que eu acertei em cheio e entortou a roda traseira, fazendo vazar todo o ar do pneu, no meio do nada pra facilitar um pouco, ainda bem que a roda é raiada, senão poderia ser bem pior.
Bem, depois de tentar desamassar com um toco de madeira e o auxilio de um motociclista brasileiro que parou para dar uma força, usei meus cilindros de ar comprimido para encher novamente o pneu, mas minha alegria durou só uns 200 metros, murchou de novo, minha única alternativa seria voltar uns 7 km onde tinha uma gomeria (borracharia) pra lá de meia boca. Então peguei carona com um caminhão até lá, assim que cheguei fui atrás de uma caminhonete que pudesse buscar a moto, feito isso chegamos os três na gomeria, eu a Débora e a moto.
Com a moto no barro, ou melhor, na gomeria, o gomeiro pegou sua marreta cirúrgica e sem dó nem piedade desceu a porrada na roda, é verdade que ela não ficou muito bonita, mas resolveu e deu para seguir viagem.
Ufa! Chegamos em Salta, que é uma cidade muito legal, mas que já conhecíamos e é uma grande cidade, e como gostamos das pequenas cidades, dormimos e resolvemos seguir viagem, no dia seguinte, para Santo Antônio de los Cobres, de onde sai o Trem das Nuvens, o nosso próximo desejo.
O caminho até lá não é dos mais fáceis, boa parte ainda é de rípio, e como estão em obras alguns trechos da estrada ficam Punk.
Em Santo Antônio, não tem muito o que fazer, além de dar umas voltinhas pelas poucas ruas e voltar pra pousada, porque à noite, como estamos a quatro mil metros de altitude, esfria bastante. Jantamos moderadamente na própria pousada e tentamos dormir, porque dormir nessa altitude é bem difícil. Depois de uma noite de dorme/acorda/respira… acordamos de uma vez, tomamos o desjejum, mais um rolezinho pela city e embarcamos no Trem das Nuvens, um dos mais altos do mundo, num passeio sobre as cordilheiras dos Andes que dura cerca de três horas, vai até o ponto principal, o viaduto La Polvorilla, que fica a 4.220 e volta para Santo Antônio. Adoro trens e esse é mais um pra minha coleção.
Desembarcamos do Trem das Nuvens e embarcamos na Moto das Nuvens com direção a Salta novamente, dessa vez nos hospedamos na mesma pousada que ficamos há uns cinco anos atrás, “Las Forolas” a simpatia dos proprietários e as meias lunas do café da manhã continuam ótimas, que bom.
Dia seguinte partimos de Salta com direção a Cafayate, 200 km ao sul, por uma bela estrada, toda asfaltada e com alguns cartões postais pelo caminho, como o Mirador Três Cruces ou a Quebrada de las Conchas, lugares para parar e se encantar. Cafayate é uma cidade bem legal, com boas pousadas, uma grande praça onde se concentram a maioria dos bares e restaurantes, vale a pena ficar uns dois dias por aqui.
No dia seguinte partimos com direção ao nosso próximo destino, Cachi 170 km de rípio, subindo pela ruta 40, mais uma estrada cheia de cartões postais para apreciar. Apesar da distância parecer pequena, a estrada tem trechos difíceis e o calor estava de matar, na metade do caminho existe um verdadeiro oásis, uma fazenda / pousada que também serve de apoio para quem está de passagem, além de servir lanches e bebidas geladas, é um lugar maravilhoso para descansar e esperar o sol dar uma trégua.
Assim que chegamos, parei a moto debaixo de uma árvore e comecei a ouvir um barulho dentro do tanque, achei estranho e abri a tampa para verificar, a pressão dentro do tanque estava tão alta que a gasolina jorrou para cima lavando a moto e o motor que estava super quente. Na hora pensei, puts vai pegar fogo. Fechei novamente o tanque, e por sorte estava com uma garrafa de água na mão, que aproveitei para jogar sobre o motor e o escapamento. Foi só o susto, mas depois disso a cada 10 km parava para abrir o tanque e aliviar a pressão. Nesse trecho encontramos um grupo de Jipes do Brasil, que também estavam passando por esse mesmo problema de pressão nos tanques de combustível.
Chegamos em Cachi no dia 31/12, onde passaríamos mais um réveillon longe de tudo. Cachi é uma cidade bem pequena e com uma infra de pousadas e restaurantes que deixa a desejar, principalmente para essa data. Mas, a região é muito bonita e acabamos ficando amigos de dois jovens casais de brasileiros que viajavam de carro, o Neto e a Amanda e o Paulo e a Mulher Bombinha, comemoramos a passagem do ano juntos, na verdade mais bebemoramos do que comemoramos, porque a comida não deu para encarar, mas valeu pela companhia.
Dia seguinte nos despedimos de nossos amigos e partimos para S. Salvador de Jujuy, chegamos na cidade e como era dia 01/01 as ruas estavam vazias, quando passou por mim uma moto com placa da Argentina, pedi para o amigo parar e perguntei se ele conhecia algum bom lugar para se hospedar na cidade, e de primeira ele respondeu:
-Sim, na minha casa, eu adoro brasileiros, tenho muitos amigos lá.
Depois de alguns minutos de conversa, fomos até o apartamento do Mario, que inclusive estava fazendo aniversario no dia, enquanto comemorávamos com uma garrafa de Torrontes, falei com o Mario que gostaria de ficar numa cidade bem menor, afinal cidade grande já chega São Paulo, onde moramos. Ele então sugeriu Purmamarma, que fica a 70 km de Jujuy. Concordamos e o Mario de imediato se prontificou, vou com vocês, e fomos.
Assim que chegamos no charmoso povoado, descemos da moto e fomos nos refrescar num bar. Quem encontramos?
Nossos quatro amigos brasileiros, de novo o destino nos colocou no mesmo caminho.
Conversando com o Mario sobre a região surgiu mais um convite. Vamos subir as cordilheiras até as Salinas Grandes?
– Só se for agora, respondi.
Já passava das 21hs quando começamos a subir até os cinco mil metros de altitude, chegamos nas Salinas no começo da noite para apreciar as estrelas e fazer algumas fotos que ficaram show, principalmente porque o casal Neto e Amanda são profissionais no assunto.
Para fechar a noite, fomos comer empanadas e ouvir tango até às três da manhã. Ai que me dei conta de que ainda não tínhamos pousada para dormir. Mais uma missão para o Mario, que rodou com a gente até encontrarmos. Valeu Hermano.
A partir daí começamos a retornar ao Brasil, pelos mesmos caminhos que nos levaram a tantos lugares bonitos e diferentes, e que nos apresentaram novos amigos e novas histórias, que guardaremos para sempre em nossas memórias. Afinal viajar e colecionar experiências.
Até a próxima!
VERSÃO GARUPA
Depois de um ano tão difícil como 2016, nada como chegar em casa e receber a noticia de que iríamos viajar.
Mas como? Depois de tudo que passamos este ano? O Zé responde, por isso mesmo! Fiz um roteiro para América do Sul. Eu disse: – De novo?
Ele Responde: -É o que temos, a moto, os acessórios, um pouco de dinheiro e a vontade.
Como toda mulher que pensa com a emoção, pensei…Será?
E, como homem que pensa mais com a razão ele disse:
-É agora e já.
Ok, eu tenho opção? Ainda bem que não, porque se fosse por mim, não iriamos. Por isso é bom ter um parceiro que nos impulsiona. A rotina e o medo às vezes nos afastam dos nossos desejos.
Ele realmente precisava pegar a estrada depois de tanto estresse, e eu não estava diferente.
Sair da rotina, nos renova para enfrentar uma nova etapa, sempre pensei assim, mas com o tempo vamos nos acomodando e cultivamos outros vícios, a mesmice.
Hora de mudar e ir mais uma vez para Argentina, Bolívia e Chile, pelo menos este era nosso roteiro inicial, mas como sempre, mudamos tudo pelo caminho. Como tínhamos poucos dias, preferi pedir para fazer uma viagem mais tranquila, sem muita pressa.
E como viajar junto é chegar a um consenso, resolvemos que seria só a Argentina mesmo e se desse tempo, estenderíamos para os outros países. Enfim, tinha muita coisa para conhecer, apesar de eu achar que já tínhamos visto tudo por ali. Ledo engano, a Argentina também é misteriosa, assim como o Chile e Peru.
Visitamos alguns lugares surpreendentes. Veja bem, nem sempre surpreender é para melhor, tiveram lugares inóspitos, que nem imaginei que existia na Argentina. Uma paisagem que lembra mais o Chile, Bolívia e Peru, estou me referindo as províncias de Salta e Jujuy. Já havíamos passado por lá, mas o entorno não tinha feito parte dos nossos roteiros.
Desta vez não tinha pesquisado os lugares junto com o Zé, aliás, prefiro nunca pesquisar, porque é uma forma de aprender a encarar o novo. Não que pesquisar não seja interessante, mas quero me surpreender com o que vem pela frente, sendo bom ou ruim, não importa, simplesmente quero me surpreender.
De fato me surpreendi com tudo. Com as pessoas, com as paisagens, com as atitudes do Zé e comigo mesma. Então entendo que foi uma viagem interessante, não é?
Vamos por parte:
PESSOAS: Os argentinos são pessoas muito prestativas. Todas as vezes que precisamos fomos bem atendidos e ajudados. A começar pela carona que tivemos que pedir para nos socorrer na estrada. Várias pessoas pararam para nos ajudar, um caminhoneiro deu carona até o borracheiro mais próximo para o Zé buscar socorro para consertar a moto que ficou com a roda amassada depois de passar num buraco. Quando conto esta história, as pessoas se assustam quando digo que fiquei no acostamento junto com a moto esperando o socorro chegar. Confesso que em momento algum senti medo, pelo contrário, a Argentina sempre me parece mais segura que meu próprio país.
Acredito não ter dado chance pro azar, se tivesse me sentido insegura, não teria ficado com certeza. Sempre confio no meu sexto sentido, se não confiasse acho que nem teria viajado de moto, concorda?
A primeira coisa que faço quando saímos de viagem é estar pronta pra tudo, comida ruim, horas de viagem sentada, hospedagem nem sempre de acordo, chuva, desentendimentos e algumas coisinhas mais. Então, falando em sexto sentido, nem sempre ele acerta, mas protege. Por exemplo, em Jujuy o Zé pediu uma informação sobre hospedagem e no mesmo momento o motociclista Mário nos levou para casa dele.
Como assim? Eu, indo dormir na casa de um estranho, que acabei de conhecer a menos de um minuto? Pra minha surpresa, o Zé o seguiu e quando menos eu esperava estávamos na sala da casa dele.
Falei: _Zé, quero ver como você vai nos tirar dessa. Eu realmente não queria ficar ali. Pra mim tudo isso é muito estranho, mesmo os motociclistas dizendo que são uma irmandade. Prefiro conhecer antes. Acho que ele percebeu minha desconfiança, aliás, não sei nunca disfarçar. De fato, meu sexto sentido se enganou, o Mário se mostrou uma pessoa muito prestativa, pronto para nos receber bem e nos mostrar o melhor da sua região, tanto é que nos levou até Purmamarca e nas Salinas Grandes e se tivéssemos mais dias iria nos mostrar até um vulcão que fica na divisa da Argentina com o Chile. Questionei: A Argentina tem Vulcão? Diz ele que sim, mas não tivemos a oportunidade de conhecer. Esta vendo porque sempre temos que voltar. Não dá para conhecer tudo de uma única vez, prova disso que é a quarta vez que vamos para a Argentina. Mário, não tenho como deixar de me desculpar e também agradecer a recepção, mas acredito que você deve ter me entendido, afinal você é advogado criminalista.
E como brasileiro tem em todo lugar no mundo, acredito que até na lua, não seria difícil encontrar alguns pelos caminhos. Por incrível que pareça, sempre adotamos uns filhos e não poderia ser diferente com o Neto e Amanda (casal imagem) e Paulo e Ana Cláudia (casal intelectual) que viajavam num Astra, que batizamos de “Astralha”. Era tanta bagagem que às vezes achávamos que um deles ficaria para trás. Nos conhecemos em Cachi e passamos o Ano Novo juntos, com uma ceia perfeita, onde nos serviram “Trucha” (truta) estragada. Mais uma ceia divertida para nossa história. Acabei jantando uma bola de sorvete, pensando pelo lado bom, deixei de ingerir algumas calorias.
PAISAGENS: Pelas fotos, dá para ter uma ideia do que vimos nesta viagem. Algo parecido vimos em Uspallata, província de Mendoza, na Bolívia e no Peru, mas como estão todos ali, um perto do outro, era natural que a região fosse bem parecida. Me surpreendi, porque de fato não pesquisei nada, então atingi o meu propósito. Mas por outro lado, me surpreendi também com o calor.
Não imaginava que enfrentaríamos 64 graus no asfalto. Agora imagina esta temperatura com toda aquela roupa, cheguei a ter alergia do calor.
Loja de conveniência com ar condicionado era nosso oásis. Apesar das pequenas distancias entre nossas paradas, a viagem era bem cansativa, o calor nos consumia. Teve um dia que tivemos que parar por 3 horas e esperar o sol se por para seguirmos viagem.
Em contrapartida, outros dias enfrentamos muitos ventos, tanto é que a máquina caiu do tripé quando fazíamos uma foto. Por sorte em Salta consegui dar um jeito na lente e continuar usando a máquina. Me preparei pra tanta coisa, mas confesso que pra isso não. Deu um aperto no coração.
Resumindo, as paisagens destas províncias são muito parecidas, o que difere um pouco é a infraestrutura de cada lugar. Por exemplo, Salta, Cafayate, Purmamarca e Tucumán tem boas hospedagens e bons restaurantes dentro da média de gastos, já os outros deixam a desejar nos dois sentidos, preço x qualidade.
Nós, Piloto e Garupa – Mais uma viagem que nos ensina muito. Desta vez com menos ansiedade e mais compreensão. Com certeza a maturidade ajuda muito. Me recordo da primeira viagem que teve muitos desencontros e contratempos.
Agora um pouco mais rodados, aprendemos a nos respeitar e a decidir de forma mais tranquila o que fazer e como fazer. Algumas pessoas nos perguntam se não enjoa. Interessante, quando mais viajamos de moto, menos temos vontade de viajar de carro. A sensação de liberdade de agilidade e de simplicidade é muito maior. Lógico que tem alguns problemas, mas aprendemos superar juntos. Talvez seja por isso que viajamos sempre sozinhos.
Acho que dificilmente com outras pessoas dá para enfrentar os mesmos desafios e o mesmo ritmo sem estressar. Os tempos e desejos são diferentes.
Pode até parecer egoísmo, mas na realidade é o momento que temos para ter nossa individualidade, apesar de estarmos o tempo todo juntos. É tempo para refletir, aprender observar e a cuidar um do outro. Quando voltamos temos sempre a sensação de mais uma missão cumprida e que estamos prontos para novos desafios e com muito mais cumplicidade.
Se vocês ainda têm alguma dúvida de viajar a2, posso garantir que a experiência é única. Nos limita um pouco no que diz respeito a aventura, mas para o casal é o momento de reforçar a amizade, a confiança e o companheirismo.
Que tal começar pela Argentina? Fica a dica!